Poupança interna

Para crescer, um país precisa poupar. Se não é capaz ou não quer economizar para investir e, assim, desenvolver-se, terá de se socorrer na poupança de outros povos. A incapacidade de poupar pode ter várias razões, mas basicamente é resultado da necessidade do país de gastar todo o seu Produto Interno Bruto em serviços essenciais e projetos sociais, além de pagar dívidas. É o que sempre acontece com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, usamos a nossa poupança para pagar juros das dívidas feitas com governos e instituições internacionais ou estrangeiros.

Pode haver também a falta de vontade de poupar, o que é uma questão cultural. Ou ausência de sobras para poupança ou falta de mecanismos adequados, que atraiam as economias feitas. Temos todos esses fatores negativos. A poupança das pessoas físicas e jurídicas é ínfima porque se gasta tudo o que se ganha. É minúscula também porque o que se ganha é muito pouco. Somos um país onde se discute um salário mínimo de R$ 260,00, o menor ou um dos menores do mundo. E quem ganha o suficiente para poupar é considerado marajá. Um povo que ganha tão pouco não tem capacidade de poupança e investimentos. Estamos enterrados em dívidas e tudo o que o governo e as empresas conseguem poupar vai para rolar esses gigantescos papagaios que se reproduzem, vai ano, vem ano.

Devemos muito, e grande parte do dinheiro que o nosso País recebe do exterior é de empréstimos, muitas vezes especulativos. Dinheiro que vem, fica pouco tempo e vai embora, carregando consigo vagões de juros. Temos também investimentos estrangeiros diretos. Trata-se do dinheiro que vem para ficar, aplicado em indústrias, comércio e mesmo empresas do setor de serviços. Tais investimentos, ditos de risco, embora sejam propriedades de organizações de outros países, obedecem a nossa legislação, aqui criam empregos, tributos. Colaboram, enfim, para o desenvolvimento brasileiro. São a poupança dos outros povos aplicada no Brasil, já que não somos capazes de produzir a nossa própria poupança.

Um levantamento desses investimentos diretos, nos últimos anos, assusta.

Pelo quarto ano consecutivo, a América Latina e o Caribe, o Brasil incluído, recebem investimentos externos diretos em valores decrescentes. Em 2003, esses investimentos foram de US$ 49 bilhões. Em 1999, eram de US$ 109 bilhões.

Os dados constam do Relatório de Investimento Mundial 2004, divulgado na 11.ª Conferência Geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), que se realiza em São Paulo. De 1999 a 2003, os investimentos diretos caíram nada menos de 55%.

As maiores quedas ocorreram no Brasil, com menos 39%, chegando a apenas US$ 10,1 bilhões, e no México, com queda de 26%, ou US$ 10,7 bilhões.

Precisamos, com urgência, criar condições para que haja poupança interna e ela seja investida. Para tanto, é preciso montar mecanismos que a atraiam e acabarmos com os preconceitos contra quem ganha e acumula dinheiro no Brasil. É essencial que tenhamos a nossa própria poupança, além da poupança externa, que temos de disputar com o resto do mundo. Para bem disputar as poupanças externas, temos de oferecer segurança, regras claras e definidas, possibilidades de lucros competitivos. Enfim, o estrangeiro quer que seu dinheiro seja bem aplicado e rendoso, tanto mais quando no estrangeiro. E, para eles, o Brasil é estrangeiro.

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