Politização e crime

Tudo deve ser feito para evitar a politização da guerra urbana iniciada pelo crime organizado, atingindo com gravidade extrema a cidade e o Estado de São Paulo. Tudo será feito, por políticos mal-intencionados e gente mal-informada, para dar aos episódios sangrentos conotações políticas que possam influir nas próximas eleições.

Não há como imaginar que a população amedrontada e sofrida não será alvo da exploração política dos episódios que tiraram preciosas vidas de quase meia centena de policiais.

A melhor maneira de desautorizar as manobras visando a politização desses episódios talvez seja não inocentar os candidatos ou o que representam. Eles – o presidente, que quer bisar seu mandato, e o ex-governador de São Paulo, que quer ser presidente – são igualmente culpados. E culpados são também ex-presidentes, congressistas e mesmo autoridades policiais, penitenciárias e da magistratura que descuraram nas políticas econômicas e sociais, na feitura de leis enérgicas e eficientes e na prevenção e elaboração de políticas visando a recuperação dos que foram para os presídios por atentarem contra a sociedade.

Não há por que pensar que culpado seja o candidato da oposição a presidente, o ex-governador de São Paulo, porque em seu estado é que ocorreu a maioria dos ataques do crime organizado e revoltas nas penitenciárias. Afinal de contas, trata-se do maior estado e da maior cidade do País. Por óbvio, lá é que se concentram os maiores problemas de violência e as maiores dificuldades para evitá-los e combatê-los. Não fosse Geraldo Alckmin governador até bem pouco, mas outro qualquer, do PT ou de qualquer outro partido, e ainda assim seria São Paulo o principal palco dessa tragédia.

Embora as polícias militares e civis sejam estaduais, há também as guardas municipais que colaboram na manutenção da ordem e a Polícia Federal, que neste governo ganha peso e importância. No mais, haveremos de nos lembrar que as polícias estaduais dependem em grande parte de recursos de um plano nacional de segurança, que está mofando em gavetas palacianas, e de recursos da União, que são fornecidos aos estados a conta-gotas, quando não são reduzidos.

O Congresso Nacional, ao longo de décadas, vem produzindo uma legislação criminal e de execução penal leniente. Parece trabalhar mais para os bandidos que para as suas vítimas. A Justiça, que não se exime de culpa, é munida de legislação inadequada e não raro alguns magistrados ainda a usam com prodigalidade em favor de criminosos.

Finalmente, se há um ousado ataque à sociedade e às forças de segurança promovido pelos chefões do crime organizado, também tem havido uma assustadora onda de criminalidade no ambiente político e administrativo da União, dos estados e municípios. ?Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão.? Politizando a guerra dos criminosos contra a sociedade nos convenceremos de que este país não tem recursos para pôr na cadeia todos os que a merecem e lá deveriam estar. Muitos deles estão na política e nos gabinetes governamentais.

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