Requião fará churrasco em área de aftosa

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), no mais ostensivo desafio ao Ministério da Agricultura desde que surgiu no Estado a suspeita de febre aftosa, fará na próxima semana um churrasco na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, para demonstrar que o Paraná está livre da doença. A fazenda é foco da febre aftosa, de acordo com o ministério.

"Vamos comer a carne e beber o leite produzidos na fazenda para mostrar que não há febre aftosa", disse Requião. Ele tem, reiteradamente, acusado o Ministério da Agricultura de ter forjado a existência de aftosa no Paraná, situação que ele considera "uma falseta". O churrasco poderá ser feito, mas tomar leite será difícil, já que o gado da Fazenda Cachoeira, resultado de cruzamento industrial, é destinado à produção de carne, não de leite.

A realização do churrasco está condicionada à aprovação da Sociedade Rural do Paraná, com sede em Londrina, e do proprietário da fazenda, André Carioba. O rega-bofe deverá coincidir com a presença, na propriedade, de técnicos do Ministério da Agricultura que estarão vistoriando as condições do rebanho. A sugestão do churrasco partiu do prefeito de São Sebastião da Amoreira, Jorge Takasumi (PL), aliado do governador.

O anúncio do churrasco coincidiu com os 90 dias desde o surgimento da suspeita da aftosa, sem que até agora as autoridades e os produtores do Paraná se convencessem de que o rebanho esteja contaminado. Eles alegam que não houve prova conclusiva, que é obtida por meio do exame de Probang, o vírus da aftosa é isolado a partir do líquido esofágico-faríngeo. Das 209 amostras colhidas na Cachoeira, 91 (o último resultado é de 12 de dezembro) deram resultado negativo.

O foco na propriedade foi detectado a partir de exames de sangue que apontaram alterações sorológicas em 20% de um lote de novilhas adquiridas da Fazenda Bonanza, em Eldorado, município onde surgiu o primeiro foco da doença em Mato Grosso do Sul. Lá, ocorreram 28 focos e cerca de 3 mil animais foram abatidos.

A suspeita surgiu, inicialmente, em quatro propriedades que haviam arrematado, em leilão promovido em Londrina, em 4 de outubro, animais também provenientes da Fazenda Bonanza. Elas ficam em Amaporã, Grandes Rios, Loanda e Maringá. A suspeita se estenderia em seguida a uma fazenda em Bela Vista do Paraíso, onde o gado adquirido no leilão esteve hospedado. E 6 de dezembro, para surpresa do governo do Paraná e produtores rurais, o Ministério da Agricultura informou que havia comprovado um foco em São Sebastião da Amoreira, até então livre da suspeita.

As propriedades suspeitas estão sob intervenção sanitária – não podem introduzir ou retirar animais. O proprietário da fazenda interditada em Grandes Rios, Bruno Alexandre Von Der Leyen, disse que suas reservas financeiras estão se esgotando, e o da fazenda embargada em Loanda, com 2,3 mil animais, Pedro Garcia Pagan, só não teve prejuízo maior porque está comercializando os animais que possui em outras propriedades.

Apesar do embargo, não há mais fiscalização nessas fazendas. As placas da Defesa Sanitária Animal foram "crivadas de balas", segundo Pagan. A interdição se estende a um raio de 10 quilômetros dessas fazendas, atingindo cerca de 800 propriedades. Por causa da interdição, 2 milhões de bovinos (20% do rebanho paranaense) não puderam ser vacinados no final do ano passado contra a aftosa.Até agora, 43 países embargaram a compra de carne paranaense.

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