Oposição suspeita que Bastos orientou a Polícia Federal

Repercutiu mal para o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos a decisão do delegado Rodrigo Carneiro Gomes, de não o chamar para depor no inquérito que apura a violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. A oposição não descarta que a ordem de poupá-lo partiu de cima, ou seja, do próprio ministro, ao qual a Polícia Federal está subordinada. "É o privilégio dos privilégios e a sociedade, com certeza, vai cobrar por isso", defendeu o líder do PFL, senador José Agripino (RN).

Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), o inquérito ficará incompleto sem o depoimento de Bastos. Além do que, acredita que a omissão vai anular o papel que ele deveria ter como patrocinador de uma investigação séria. "O fato de ele ser autoridade superior na área de investigação não é motivo para isentá-lo", alegou. "Ao contrário, é um motivo a mais para ele colaborar com a apuração."

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) prevê que a ausência de Márcio Thomaz Bastos no inquérito da Polícia Federal o deixa numa situação delicada, que refletirá quando do seu comparecimento ao Senado. Peres comparou sua situação ao que ocorreu quando o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, depôs na CPI dos Bingos. "Ele virá ao Senado na mesma fragilidade com que veio Palocci, com muita coisa para conversar", prevê.

"O ministro levanta suspeitas do chefe da Polícia Federal contra ele." Da parte dos governistas, a defesa de Bastos foi sintetizada pelo argumento de que qualquer ministro da Justiça teria o comportamento que ele teve: "Palocci pediu um advogado e o ministro lhe apresentou um. É só isso, ele não disse nem uma palavra", defendeu o senador Tião Viana (PT-AC). "O que ele fez qualquer cidadão brasileiro, na condição de ministro, faria."

No entender do líder da minoria, senador José Jorge (PFL-PE), caberia ao ministro da Justiça ter com a Polícia Federal o mesmo procedimento que adotou com o Senado. "Fica difícil diferenciar por que ela acha que deve vir ao Congresso e por que não deve ir à Polícia Federal", afirmou. É ainda incisivo, ao argumentar que o fato de ele ser o superior hierárquico da Polícia Federal não é argumento para poupá-lo de ser ouvido no inquérito. "Todas as pessoas que tiveram participação no esquema de quebra do sigilo do caseiro, ou os que foram chamados para encobri-lo, deveriam naturalmente ser ouvidos no inquérito", argumentou o líder.

Não renuncia

Márcio Thomaz Bastos quer ficar no cargo por dois motivos: para preservar sua biografia e por lealdade ao presidente Lula, de quem é amigo há duas décadas. "Se eu sair, eles vão pra cima do presidente", afirma o ministro a interlocutores quando questionado se pretende renunciar. "Eles", no caso, é uma referência à oposição, embora Bastos tenha um amigo fiel nas fileiras do PFL que bate sem parar no governo – o senador Antônio Carlos Magalhães (BA), que ontem esteve em seu gabinete. Bastos se diz disposto a permanecer, mas ele é um ministro abatido, visivelmente, ferido pelos golpes que a oposição lhe desfere e pelas denúncias de que teria tentado acobertar o então titular da Fazenda, Antônio Palocci.

Na Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou ontem um convite ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para que compareça na próxima terça-feira, às 14h30, ao plenário da Casa. A oposição havia feito um pedido de convocação do ministro, mas um acordo de lideranças transformou o pedido no convite aprovado. O ministro deverá prestar esclarecimentos sobre seu envolvimento no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Palocci dispensa salário de R$ 3,1 mil como sanitarista

Ribeirão Preto, SP (AE) – O ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, afastou-se, por dois anos, com prejuízo dos vencimentos, do cargo de médico da Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo. "Ele usou do benefício que está previsto na lei do funcionário público estadual", disse o diretor da Direção Regional de Saúde (DIR-18), Paulo Saquy. O pedido de afastamento de Palocci, segundo Saquy, foi publicado no Diário Oficial do estado na quinta-feira da semana passada.

O afastamento ainda é prorrogável. Palocci, que deixará de receber o salário líquido de R$ 3,1 mil, é concursado pelo estado desde 1986, mas, com os diversos cargos públicos ocupados e até com os períodos de campanhas eleitorais, pouco tempo atuou como sanitarista.

O primeiro afastamento do ex-ministro da Fazenda ocorreu em 1988, durante sua campanha para vereador. Foi eleito e deixou a Vigilância Sanitária no ano seguinte. Em 1990, elegeu-se deputado estadual. Foi eleito prefeito, pela primeira vez, em 1992. Ficou sem cargo público entre 1997 e 1998, mas, nesse período, segundo Saquy, Palocci aproveitou as férias vencidas e licenças-prêmio para continuar afastado.

Em 1998, foi candidato a deputado federal e elegeu-se novamente, para em 2000 ser eleito prefeito de Ribeirão Preto pela segunda vez. Saiu desse cargo em agosto de 2002 para coordenar a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no final daquele ano renunciou para ser ministro, função da qual foi demitido em 27 de março, após seu nome ser envolvido na quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

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