Dilma convoca ministros para analisar convulsão social

Chocada com as cenas de violência no País e a invasão ao Palácio do Itamaraty, a presidente Dilma Rousseff convocou, na noite de quinta-feira, 20, uma reunião, nesta sexta-feira, 21, com os ministros mais próximos, entre eles o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A presidente quer mapear com seus conselheiros políticos a extensão das manifestações por todo o País e medidas emergenciais que podem ser tomadas pelo governo para arrefecer o movimento. A presidente cancelou as viagens que faria nesta sexta-feira à Bahia e na próxima semana ao Japão.

O governo deve voltar a avaliar a possibilidade de Dilma fazer um pronunciamento em cadeia nacional, o que havia sido descartado na quinta-feira após a ação de vândalos no Itamaraty. Autoridades do governo consideraram a invasão ao Itamaraty um fato “muito grave” e “assustador”. Devem participar da reunião, além de Cardozo, os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Helena Chagas (Comunicação Social).

A presidente passou o dia em seu gabinete no Palácio do Planalto na quinta-feira, despachando com ministros e acompanhando a movimentação em todo o País pela TV. O palácio foi cercado pelo Exército. Ela deixou o Planalto em direção ao Palácio da Alvorada às 20h28, quando considerava que o ambiente estava relativamente calmo. Imediatamente após sua saída do Planalto, houve a invasão ao Itamaraty.

O governo tem dificuldades para tratar o movimento, já que não há uma pauta específica até o momento. As cenas de quinta-feira mostram que se transformou no protesto pelo protesto, avaliavam auxiliares de Dilma.

Pacote para jovens

Está sendo costurado no governo um pacote para a juventude. A ideia inicial é oferecer um reforço ao programa Ciências sem Fronteiras (bolsas no exterior), ampliar o acesso a universidades, criar programas sociais para a juventude ou turbinar alguns já existentes. Em outra frente, o governo quer aumentar vagas de ensino técnico.

Na quinta-feira à noite, a Secretaria-Geral da Presidência promoveu uma reunião com assessores da Secretaria da Juventude, na qual foram avaliadas reivindicações dos manifestantes. A reunião foi flagrada pela TV Record. Eram exibidos slides com tópicos das reivindicações dos manifestantes e os seguintes dizeres: “Brasil precisa mudar”, “corrupção”, “manifestações em todo o Brasil”.

PT nas ruas

Horas antes de convocar a reunião de emergência com ministros a presidente viu-se obrigada a enquadrar a direção nacional do PT, que estimulou militantes a se unirem aos protestos das ruas. Diante do clima político tenso e confuso, Dilma irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamou militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Avenida Paulista.

Falcão tinha convocado petistas para as manifestações de ontem em comemoração à redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag “#ondavermelha” do seu perfil do Twitter.

A preocupação do Palácio do Planalto e de vários dirigentes petistas era com a reação dos manifestantes, que rejeitavam a presença de partidos nos protestos. Parte dos políticos da legenda previa que a incitação petista poderia dar fôlego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou ocorrendo.

Em outro documento, uma nota do PT nacional, Rui Falcão revela a busca do partido por um novo discurso político, que vai além da inclusão social tão destacada pelos governos Lula e Dilma. Em seu primeiro parágrafo, Falcão afirma que os movimentos “colocam na ordem do dia uma nova agenda”. O petista insiste no ataque à mídia.

“A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras, neste e em todos os movimentos sociais, tem sido fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas”, diz o texto.

O “convite” aos petistas no Twitter foi considerado um desastre em algumas alas do PT. Dirigentes alertaram o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem se credenciado como o consultor político de Dilma, sobre o risco de embate entre petistas e manifestantes.

A principal preocupação de parte dos dirigentes é que ao misturar o PT nas ruas num momento de tensão o próprio partido dê munição a adversários para que transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma, que, até o momento, não são o alvo central.

Mas uma ala petista acha que o partido tem direito de ir para as ruas e de fazer manifestações, já que é considerada uma legenda de massas e de mobilizações, com uma ampla militância e pode ter detectado a necessidade de se conectar melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em uma manifestação apartidária pode apenas expor o partido, o governo e Dilma.

O chamamento de Rui Falcão foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participação do PT nas manifestações. “Piada do dia”, “somos apartidários”, “sai pra lá aproveitadores” e “oportunismo canalha” foram algumas das críticas que se fizeram seguir à orientação do dirigente petista.

“Eles são contra o governo Dilma. E o PT é o governo Dilma. Ir para a rua só se for para apanharmos”, disse o deputado Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve vontade de ir para o meio da multidão. “Não fui porque não fui chamado. Não sei se me aceitariam”, disse ele.

Oposição

A ex-senadora Marina Silva usou metáforas para falar da intenção de partidos de irem às ruas. “Navegar o rio depois que ele transbordou é o que todo mundo faz. Difícil é trabalhar o curso do rio enquanto está cavando a terra.” “O PT vai dizer o quê? Esse é o maior movimento depois das Diretas-Já. Contesta os dez anos do governo do PT. Só se for para fazerem mea culpa”, disse o presidente do DEM, José Agripino (RN). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.