Bertholdo diz que a lei ajuda Youssef

O advogado Roberto Bertholdo afirmou ontem que a delação premiada concedida pela 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba ao doleiro Alberto Youssef tem feito com que ele estabeleça um monopólio do câmbio no Brasil. A declaração foi dada em entrevista à Rádio BandNews FM, que foi ao ar nesta quarta-feira pela manhã. Bertholdo disse que embora Youssef delate vários doleiros, ele acaba absorvendo a clientela dos delatados.

Segundo Bertholdo, que está preso no Centro de Operações Policiais Especiais por lavagem de dinheiro e tráfico de influência, entre outras acusações, o deputado José Janene (PP) mandava dinheiro para o exterior através de Youssef, coordenando dessa forma um "suposto mensalão". "Ele fazia negócios de corrupção. Recebia R$ 1 milhão, separava R$ 100 mil reais e dava R$ 10 mil a cada deputado", disse. Bertholdo reafirmou que freqüentava a casa de Janene em Brasília e que vários parlamentares estariam envolvidos no "suposto" mensalão, mas não revelou nomes. "Há um Janeneduto. Não existe um Bertholdoduto", afirmou.

O advogado disse que Youssef formou um grupo de doleiros, no qual participava Neuma Cunha, que seria uma doleira de Santo André. De acordo com Bertholdo, Youssef mentiu ao dizer que não conhecia Neuma. "É só vir ao COPE e verificar que a neuma vinha visitá-lo semanalmente quando estava preso e era quem operava câmbio para ele. Durante esse período, toda a operação de corrupção de Janene era transformada em dinheiro vivo por Youssef", afirmou.

Segundo Bertholdo, ele chegou a recebeu uma carta com ameaças de morte. Na carta anônima, afirmou, o pressionaram para que ficasse em silêncio, sem acusar outras pessoas, ou então seria assassinado.

O advogado reclamou do tratamento que vem recebendo da 2.ª Vara Criminal Federal. Para ele, o juiz Sérgio Fernando Moro é extremamente honesto, mas tem acreditado demais em Youssef e no empresário e ex-deputado Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia. Para Bertholdo, tanto Youssef quanto Tony Garcia continuam atuando no mundo do crime.

Delação Premiada

Em nota divulgada à imprensa no início da semana, Moro lembrou que o instituto de delação premiada só vale para crimes praticados no passado, não valendo para crimes futuros. O juiz informou também que a delação premiada segue padrões internacionais no sentido de que o depoimento do delator, para ter valor probatório, precisa de corroboração por provas independentes, não sendo possível condenação criminal ou mesmo acusação formal apenas com base no depoimento do delator. No caso de Tony Garcia, segundo Moro, o empresário poderá ter benefícios quando a sentença for proferida, mas, "adianta-se que o acordo envolveu o compromisso de indenização, em montante a ser definido, dos danos causados aos consorciados prejudicados", disse.

Sobre Acusações

Bertholdo negou as acusações de Tony Garcia, feitas no fim de semana, de que seria o operador do mensalão no PMDB. "São mentirosas. Eu não tenho raiva do Tony Garcia. Ele fez delação premiada e tem por obrigação buscar algumas pessoas. Uma delas sou eu", disse. Para Bertholdo, Tony Garcia está colaborando com a 2.ª Vara Criminal Federal a fim de conseguir se livrar do processo que responde por fraude no valor aproximado de R$ 40 milhões, no Consórcio Garibaldi.

"Tony Garcia inventou tanto que me transformou no homem mais importante do país", disse Bertholdo referindo-se às acusações de teria sido escalado para substituir Waldomiro Diniz e distribuir mensalão. Ele disse também ser mentira de Tony Garcia, a acusação de que teria sido intermediário em negociações envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o apresentador Carlos Massa, o Ratinho. Bertholdo negou ainda as acusações de tráfico de influência e de compra de juiz e fez um alerta ao Tony Garcia.

Bertholdo disse que sofreu muito ao ver o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, tendo de se defender de falsas acusações. Segundo ele, a gravação da Veja foi montada. "O que vai acabar acontecendo é que todas as pessoas vão processar Tony Garcia, e ele vai ter de usar o dinheiro que desviou do consórcio Garibaldi para pagar as indenizações. Será processado pelo José Dirceu e pelos deputados que cita". 

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