Petróleo não deve se sustentar acima de US$ 50, diz professor

O petróleo cru atingiu hoje o recorde histórico de US$ 51 o barril na Nymex. Mas a commodity não deve conseguir se sustentar acima dos US$ 50, na avaliação do professor Saul Suslick, diretor do Centro de Estudos do Petróleo da Unicamp (Cepetro). Segundo ele, a alta atual tem viés especulativo. “Tem um bom componente de especulação, em função das expectativas”, disse, em entrevista à Agência Estado.

Suslick lembrou, no entanto, que alguns fatos importantes têm dado força aos preços do produto, como o aumento muito forte da demanda nos últimos dois anos. “Isso pegou de surpresa os produtores, que estavam acostumados a uma demanda abaixo dos atuais 83 milhões de barris/dia. Leva algum tempo para que essa demanda seja atendida e qualquer evento acaba deixando o mercado nervoso”, afirmou.

Para ele, a curto e a médio prazos essa demanda será atendida, mas enquanto isso não acontecer, haverá esse ambiente de volatilidade. O que não significa que os preços continuem a subir desenfreadamente. Tanto que Suslick acha pouco provável que a commodity venha a atingir a cotação de US$ 60 o barril, como temem alguns analistas. “Provavelmente no início de 2005, já vamos começar a assistir um ajuste do preço da commodity”, disse. Um novo choque de oferta, como os de 1973 e 1979, também está descartado, na avaliação diretor do Cepetro.

Reajuste

Suslick estima que a Petrobras poderá definir reajustes médios para os preços dos derivados do petróleo entre 12% e 15%. Segundo o professor, as estimativas para os reajustes necessários para os preços dos derivados chegam a 20% em alguns produtos. “A Petrobras já vem repassando as defasagens existentes em outros derivados que não afetam tanto o consumidor”, disse Suslick. “A nafta já vem sendo majorada dentro da política de repasse parcial da volatilidade dos preços internacionais”.

Para Suslick, o governo federal enfrenta uma “situação complicada” na questão do repasse dos preços internacionais do petróleo para os derivados de petróleo no mercado brasileiro. “Se repassa totalmente a volatilidade, ocorre um impacto inflacionário”, disse Suslick. “Se não repassa, se complica a situação da Petrobras, já que se descapitaliza a empresa, dificulta a entrada de recursos e afeta os acionistas”, acrescentou.

O diretor do Cepetro considera que, se o governo decidir repassar as defasagens para os preços dos derivados após as eleições, vai arcar com o ônus de “um ato político”. Para Suslick, o governo brasileiro deveria seguir o exemplo de alguns países, que tornaram mais transparentes para o consumidor o processo de formação de preços. “Os consumidores devem saber o que está sendo repassado para os preços”, disse ele.

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