Petrobrás pode voltar a investir em gás na boliviano

O diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, admitiu ontem que a empresa vai retomar os estudos para a construção de uma unidade separadora de gás natural na Bolívia. O projeto fazia parte do pólo gasoquímico boliviano, parceria com a Braskem orçada inicialmente em cerca de US$ 1 bilhão mas suspensa após a nacionalização do setor de gás da Bolívia. A conclusão do pólo gasoquímico, porém, será análise de estudos mais amplos, com uma reavaliação do mercado internacional de plásticos e resinas.

Cerveró frisou que a estatal voltou a analisar investimentos na Bolívia desde o fim do ano passado, com a assinatura dos novos contratos de concessão. Mas disse que, com o acordo de preços anunciado anteontem, separar as diversas frações do gás boliviano tornou-se imprescindível. "A unidade de separação terá de ser executada, uma vez que estamos pagando mais por componentes como o propano e o butano", afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O gás boliviano enviado ao Brasil é composto por metano (gás seco, usado por indústrias e térmicas), etano (matéria-prima petroquímica), propano e butano (ambos usados para o gás de botijão). Segundo o acordo, a Petrobrás continua pagando US$ 4 20 pelo metano e passa a pagar um valor extra, de acordo com as cotações internacionais, pelos demais componentes. "Para recuperar esse valor, teremos de separar as frações da cadeia do gás", disse o executivo.

Segundo estimativa da consultoria Gas Energy, propano e butano estão cotados no mercado internacional a US$ 12 por milhão de BTUs (unidade de medida do poder energético dos combustíveis), enquanto o gás boliviano é vendido à Petrobrás por US$ 4,20 por milhão de BTUs. Ou seja, caso decida não separar as partes nobres do gás, a Petrobrás perderá cerca de US$ 8 por cada milhão de BTUs de propano, por exemplo, vendido junto ao gás natural no mercado brasileiro.

Cerveró não falou em previsão de investimentos. Diante das incertezas com a nacionalização na Bolívia, o projeto do pólo gasoquímico foi suspenso e a Braskem decidiu focar seus esforços em dois projetos petroquímicos na Venezuela. A empresa, porém, aguarda um contato da Petrobrás para voltar ao tema. Nenhum executivo da Braskem foi encontrado para comentar o assunto.

Contrapartida

O diretor da Petrobrás disse que a empresa pode ficar livre da obrigação de abastecer metade do mercado boliviano de gás natural, que vem sendo imposta pelo governo boliviano nas negociações. Segundo a proposta boliviana, não aceita pela estatal brasileira, os campos de gás do país devem ser responsáveis por fatia do mercado local proporcional à sua participação na produção de gás boliviano.

"Isso implicaria uma redução significativa do resultado dos projetos", reclama Cerveró. Isso porque parte do gás destinado hoje ao Brasil a US$ 4,20 o milhão de BTUs teria de ser deslocado para o mercado interno a menos de US$ 1. Durante as negociações sobre o preço do gás, a Petrobrás conseguiu comprometer o governo boliviano a rever a questão.

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