UFPR dá sinal verde para reserva de cotas

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) aprovou ontem, por 39 votos a três, a adoção de medidas de inclusão social através da reserva de cotas. Mas somente hoje os conselheiros da UFPR vão discutir e definir os detalhes das cotas, estabelecendo critérios como percentagem, regras específicas para a aprovação e medidas de acompanhamento dos estudantes que ingressarem sob esse sistema. A proposta da universidade – para ser implantada já no vestibular 2004 – estabelece 20% das vagas da instituição para pessoas negras ou descendentes e outros 20% para alunos que fizeram integralmente o Ensino Fundamental e o Ensino Médio em escolas públicas. Pela proposta, a população indígena também teria vagas reservadas.

Ontem, enquanto integrantes do Conselho de Ensino e Pesquisa da UFPR conversavam a portas fechadas, no segundo andar da reitoria, participantes de movimentos negros organizados aguardavam no térreo. Alguns montaram barracas no pátio e passaram a madrugada em vigília.

“Queremos mostrar nosso apoio à implementação do sistema de cotas”, diz o presidente da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (ACNAP), Paulo Borges. “Atualmente, no Paraná, os negros não chegam a ocupar nem 1% das vagas existentes no ensino superior. Adotar políticas de inclusão é uma atitude bastante saudável por parte da universidade.” Segundo a socióloga e presidente do Instituto de Pesquisa de Afrodescendência (Ipad), Marcilene Garcia de Souza, a não-adoção das cotas faz com que o Estado impossibilite aos negros o acesso ao saber científico. “A proposta de inclusão, se aprovada, irá favorecer o crescimento econômico, cultural e social do Paraná”, opina.

Respondendo a críticas de alguns integrantes do conselho e da própria sociedade, que afirmam que o sistema de cotas irá destinar vagas a pessoas despreparadas e que com o passar do tempo acabarão abandonando os cursos escolhidos, Marcilene alega que a colocação que as pessoas conseguem no concurso vestibular não reflete o rendimento das mesmas dentro das instituições de ensino.

“Não há estudos que comprovem que os primeiros colocados no vestibular sejam também os primeiros alunos das turmas de graduação. Na maioria das vezes, os negros e os estudantes das escolas públicas são aprovados em último lugar e acabam se tornando os melhores das classes que passam a ocupar. A diversidade dentro das instituições de ensino superior não pode ser condenada.”

Secundaristas

O movimento organizado pelos representantes das associações negras foi apoiado por integrantes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. A entidade defende que 50% das vagas da UFPR sejam destinadas aos estudantes de escolas públicas e não apenas 20%. “Vamos continuar a lutar pelos 50%. Já conseguimos avanços no Rio de Janeiro, no Piauí e no Rio Grande do Norte. Esperamos que o mesmo aconteça no Paraná”, afirma o presidente da união, Marcelo Gavão.

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