Transparência Brasil vê banalização da propina

A maioria esmagadora dos empresários brasileiros ouvidos em 2003 pela Transparência Brasil em pesquisa conjunta com a multinacional americana Kroll, que atua no gerenciamento de riscos, afirma que a cobrança de propina ocorre com alta freqüência nas licitações públicas (para 87% dos entrevistados) e na fiscalização tributária (para 83%). Mais de 4 mil empresas foram convidadas a responder à pesquisa, mas apenas 94 retornaram.

Mais: 70% das empresas admitem gastar até 3% de seu faturamento com esse tipo de pagamento. Para 25%, o custo varia entre 5% e 10%. “É um número muito alto”, avalia Cláudio Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil e coordenador da pesquisa. “O objetivo foi esse: determinar a participação das empresas nos processos de corrupção envolvendo o setor público”, comenta.

Segundo Abramo, a corrupção acontece pela oportunidade entre um agente público e outro privado. Ele acredita que as empresas correm riscos muito altos com a prática. “Uma das saídas é adotar medidas preventivas, por intermédio de mecanismos gerenciais”, esclarece.

Outra arma para combater a corrupção é a disponibilidade de informações. “No Judiciário, por exemplo, se colocarmos os dados para o público, haverá a exibição das disparidades de eficiência entre as varas. A sociedade começará a questionar por que uma demora mais do que a outra”, avalia Abramo.

Outra situação citada por ele é a estimativa de arrecadação das secretarias da Fazenda. Todas têm um planejamento de quanto imposto irá receber, mas esse número não é divulgado. Somente aquele da arrecadação final. “Não poderemos fiscalizar se não há a disponibilidade da primeira informação”, afirma. “O mesmo acontece na política. O financiamento de campanha eleitoral vira via de regra de condicionamento. Os dados das doações são oficiais, mas não são divulgados. Se há essa informação, o eleitor pode cobrar atitudes do político”, explica o diretor.

Percepção

Abramo conta que a corrupção é menos percebida nos países que têm um bom nível de crescimento. “Aqueles que crescem menos têm de lidar com o evidente desperdício de dinheiro. Quando há um grande crescimento, a ineficiência é menos relevante em relação a outros fatores. Talvez essa seja a razão para que os países ricos e com bom crescimento, como os Estados Unidos, sejam vistos como menos corruptos”, acredita.

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