Terapia dos florais conquista espaço

O poder bucólico das flores, que além da beleza das formas e cores encantam pelo odor que exalam, vai além das sensações visuais e olfativas. Pelo menos é o que defendem os adeptos da terapia dos florais. O tratamento, que prometem agir no equilíbrio emocional das pessoas, tem como elemento fundamental a essência das flores. Sozinhas ou combinadas, elas são ministradas a partir da avaliação das necessidades de cada um, com o intuito de compensar carências em determinadas áreas, neutralizando as energias.

Apesar de existirem vários tipos de florais, como o australiano, o californiano e o mineiro, o mais conhecido e utilizado é desenvolvido a partir dos estudos do médico inglês Edward Bach, nos anos 30. Patologista e bacterologista, ele foi paciente terminal e resolveu estudar as essências a partir do momento em que foi desenganado. O propósito de comprovar a eficiência dos florais fez com que ele suplantasse o prognóstico e conseguisse concluir os estudos.

Na concepção teórica desenvolvida por Bach, ele defende o caráter vibracional das essências, excluindo os efeitos químicos ou físicos. Isto representa a harmonização das emoções e dos padrões de pensamento, provocada pela consciência da natureza do problema e o combate a ele.

No Brasil, os florais só começaram a se popularizar a partir dos anos 80, com um aumento significativo de estudiosos nos anos 90. Foi o que aconteceu com a terapeuta floral Mônica Palma. Ela passou por um problema de cunho psicológico que resultava no medo de escuro. Por indicação da mãe, recorreu a um médico homeopata que também trabalhava com a terapia dos florais. ?O resultado foi surpreendente e em duas semanas superei o problema?, assegura. Empolgada com o resultado, ela decidiu estudar o tema e, após quatro anos, passou a fazer o atendimento, tanto no consultório quanto domiciliar.

Como funciona por vibrações, as pesquisas se estenderam ao sistema vibracional dos quatro elementos básicos, usados também na astrologia: fogo, terra, ar e água. Porém, ela adianta que apesar de alguns terapeutas recorrerem ao mapa astral, não há uma ligação direta entre os dois estudos. ?Os florais de Bach têm estudos que comprovam sua eficiência, exaustivamente trabalhados, especialmente na Inglaterra?, diz Mônica.

Apesar disso, por não ter um estudo de base científica no aspecto físico-químico, a terapia não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Nacional de Psicologia (CNP). Muitos médicos e psicólogos alegam que a essência tem o efeito psicológico do chamado efeito placebo, no qual as pessoas acreditam tanto no poder de cura de determinado produto que acabam achando a cura subconsciente.

A terapeuta rebate a teoria alegando que os florais também têm eficiência comprovada em recém-nascidos, crianças e até mesmo em animais domésticos. ?Nesse tipo de tratamento, não há a auto-sugestão. E os resultados são extremamente positivos?, defende Mônica.

Advogada defende o tratamento

A advogada Carla Naliwaiko aderiu há menos de um mês aos florais de Bach e diz que se surpreendeu com a rapidez dos efeitos. ?Foi algo impressionante pela rapidez com que agiu no meu organismo?, diz.

Ela conta que estava sendo vítima de uma irritação constante, propiciada pela agenda estressante do dia a dia. Além do trabalho durante todo o dia, ela ainda faz faculdade à noite. ?Eu estava numa pressão grande e ainda tendo que dividir o tempo entre família e noivo. Chegava domingo e me dava um pânico, porque estava prestes a começar uma nova semana de correria.?

Após recorrer a anti-depressivos, sem sucesso, ela decidiu partir para a técnica alternativa. ?Após a primeira consulta me foi recomendado o uso de três essências associadas. Comecei a usar no dia 28 de julho e já sou outra pessoa.?

Segundo Carla, a irritação deu lugar a uma nova vontade de viver. ?Levando às 6h e vou dormir às 23h cheia de energia. Parece que tudo ganhou mais sentindo. Estou mais bem disposta e alegre?, diz. Para comprovar que o efeito não é reflexo de seu imaginário, ela confirma que todos em seu redor comentam a mudança. ?Todos me acham mais alegre e disposta. Parei de reclamar de tudo. A impressão que dá é de que finalmente encontrei meu equilíbrio?, diz.

Perfil do paciente é analisado

Por ser uma terapia, a administração dos florais, a despeito de não ter contra-indicações, deve vir associada a uma análise do perfil do paciente. A partir de uma conversa inicial, são detectados os problemas que devem ser trabalhados.

Segundo a terapeuta Monica Palma, a busca pelo equilíbrio requer um trabalho de contraponto ao problema. ?Na primeira fase, as essências trabalham na conscientização dos conflitos. Posteriormente, eles agem na harmonização e em seguida, nas mudanças de comportamento que resultam no equilíbrio.? Na teoria, os florais trabalham numa base psicanalítica, de que dentro da própria mente da pessoa está o pior e o maior inimigo de si próprio.

No total, o trabalho é feito a partir de 38 essências de flores que nunca são ministradas em número maior do que seis ao mesmo tempo. ?Mais que isso, fica difícil saber qual das essências está realmente trabalhando no foco do problema.? Além das essências básicas, há a chamada ?rescue?, que é um composto emergencial usado em situações como pós e pré-cirúrgico, câncer ou situações de fundo psíquico severas.

Cada uma das substâncias tem o poder de agir para determinados males físicos, sob a defesa da influência psicológica em cada mal. Como exemplo ela cita problemas de garganta, que estão relacionados a dificuldades da pessoa se expressar como deveria. ?Trabalhamos então a capacidade da pessoa colocar os problemas para fora e resolver os próprios conflitos?, explica.

Alerta

Apesar de acreditar na eficiência da terapia dos florais, Mônica faz questão de ressaltar que ela não dispensa os tratamentos convencionais, seja da medicina alotrópica ou homeopática. ?As pessoas jamais devem abrir mão do tratamento convencional, já que a terapia serve apenas como apoio.? Nos casos de tratamento psiquiátrico ou distúrbios mentais, é fundamental o tratamento médico especializado.

Polêmica na discussão do assunto

O presidente da Associação Médica Homeopática do Paraná, Helvo Slomp Junior, prefere não causar polêmica e diz não ter fundamentos suficientes para creditar aos florais a concepção de placebo, ou seja, medicamentos sem ação química comprovada, mas que agem como auto-sugestão de cura.

Ele conta que a homeopatia, hoje uma especialidade médica, muitas vezes também recebe essa crítica, porém as refuta com o argumento de estudos científicos na área. ?Acredito que qualquer terapêutica, mesmo que alopática convencional, sempre tem o componente psíquico como resultado da consulta, da auto-sugestão?, diz.

Porém no caso dos florais, ele acredita que seriam necessários mais estudos científicos para a comprovação da eficiência do tratamento. ?A prática, as pesquisas e o ensino da homeopatia seguem um conjunto de regras determinadas pela Farmacopéia Homeopática Brasileira. A prescrição em homeopatia exige um adequado diagnóstico médico sob uma abordagem muito peculiar, pois pode gerar efeitos colaterais, agravamentos e outras situações.?

Ele defende que os florais seguiram um caminho oposto, não muito próximo das pesquisas e das universidades, de modo que ainda não atingiram um status científico.

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