Tensão em acampamento do MLST no Oeste do Estado

Militantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) mantiveram ontem em cárcere privado, durante quase uma hora, dois oficiais de Justiça e três jornalistas, no acampamento montado ao lado da fazenda da Agropecuária Bom Sucesso, na BR-369, próximo a Corbélia, oeste do Estado. A confusão aconteceu enquanto os oficiais notificavam os sem terra sobre um mandado de reintegração de posse, expedido pela Justiça local, para que retirassem suas plantações da área da fazenda. Revoltados, os militantes impediram que os profissionais deixassem a área. Os cinco foram liberados assim que a polícia chegou.

O tumulto começou depois que foi feita a leitura do texto do mandado, que ordenava a desocupação num prazo de cinco dias. ?Ninguém quis receber cópia, nem assinar os papéis. Foi quando adentramos para verificar a área e, ao retornar para sair do local, eles tinham fechado a porteira que dá acesso à rodovia?, conta o oficial de Justiça Luiz Carlos Barros. ?Disseram que não abririam porque eles é que mandavam ali?. Apesar disso, segundo ele, não houve ameaças.

Foto: Aílton Santos/Jornal Hoje

Profissionais aguardaram uma hora pela liberação.

No momento do incidente, o repórter da Rádio CBN Cascavel Jonas Sotter fazia uma entrada ao vivo pelo telefone. A equipe da rádio acionou a polícia, mas, como o local é afastado da cidade, demorou cerca de 40 minutos para que a viatura chegasse. Sotter acredita que o aprisionamento foi uma maneira de intimidá-los. ?Eram cerca de 200 pessoas, entre crianças, mulheres e idosos, que se postaram em frente ao portão, não permitindo que o veículo de nossa emissora saísse?, relata. ?Mas dava para perceber que tinham homens dentro do barraco. Pareciam estar preparados para qualquer coisa?.

A situação ficou tensa, segundo o jornalista, porque os sem terra soltaram rojões, o que foi confundido com tiros. A confusão terminou no momento em que a viatura foi avistada e o grupo, que incluía ainda a repórter Iane Santos Cruz e o cinegrafista Alessandro Rocha, da CATVE, e o oficial Sérgio Ramos da Silva, foi liberado para sair.

Repúdio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR) repudiou a atitude dos militantes do MLST. Para o sindicato, ?ainda que se aceite a legitimidade deste movimento, é inadmissível que a manifestação política se converta em demonstração de truculência e autoritarismo?. O sindicato manifesta ainda que ?aceitar estas agressões é aceitar que a imprensa pode ser calada?.

O coordenador do MLST, Joaquim Ribeiro, diz que houve um mal-entendido. ?O pessoal (do MLST) pode ter se assustado porque houve aglomeração de pessoas?, alega. Ribeiro chegou ao local só depois que a confusão já havia acabado. Segundo ele, nenhum dos militantes confirmou que impediu a passagem dos jornalistas e oficiais de Justiça.

Ele garante ainda que os sem terra não vão deixar o local. Segundo o militante, a área teria sido interditada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) por crime ambiental. A Agropecuária Bom Sucesso defende-se, garantindo que a terra é produtiva e que tem todos seus encargos em dia. Os oficiais devem retornar ao local quando vencido o prazo dado para a desocupação – só que, dessa vez, com reforço policial. 

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