Tenente que matou vai a julgamento

Começa hoje, no 1.º Tribunal do Júri de Curitiba, o julgamento do tenente da Polícia Militar Demetrius Farias Lobo. A data marca também mais um capítulo na luta da família Salkovski por justiça. O policial é acusado de assassinar o universitário Luciano Salkovski, em 1995, então com 20 anos, durante uma ação policial. "Não acredito que esse julgamento dê em alguma coisa. Acho que deve ser adiado novamente", diz João Salkovski, pai de Luciano.

O crime aconteceu quando Luciano e o irmão aceleraram o carro em que se encontravam depois de receber ordem de policiais para parar. O tenente reagiu atirando contra o veículo, atingindo o jovem. Os policiais então plantaram drogas e uma arma no veículo, o que foi descoberto durante o inquérito. Lobo continuou em atividade e protagonizou outra tragédia, matando o caminhoneiro Luiz Antonio Ferraz apenas um ano e meio depois de atirar no carro de Luciano. O tenente continua na corporação, realizando trabalhos internos.

Luta

Na década de 90, a família consumiu recursos e energia em diversos protestos que marcaram o caso e a luta contra a violência policial em Curitiba, o que levou Luciano a dar até mesmo nome a uma rua. "Queremos encerrar de vez o caso para prosseguirmos com nossas vidas", explica João. Para ele, enquanto não for feita justiça e o PM seja tirado de circulação, não há como esquecer o episódio. "Não se trata de vingança, mas de tirar das ruas uma pessoa perigosa". Em 1999, a família parou de militar contra a violência policial devido ao desgaste, mas João afirma que caso o julgamento seja remarcado, ele irá voltar aos protestos. A mãe do rapaz, Maria Aparecida Salkovski, diz que parece que foi ontem que recebeu a notícia da morte do filho. "Perdoei o tenente, mas espero que ele seja preso. Até hoje sofro de depressão pela falta de Luciano. Não consigo superar a morte dele", desabafa.

Impunidade

O presidente do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha), Paulo Pedron, espera que se faça justiça no caso. "Não é possível que se leve tanto tempo para tirar uma pessoa perigosa como essa do convívio dos demais." Para Pedron, os casos de violência policial no País se alastram devido à impunidade e morosidade da Justiça. "Existem até mesmo comandantes da PM que nos pedem para ajudar a levar a público esses casos, pois não conseguem punir os policiais, o que por vezes cria até o risco de perderem o controle da corporação."

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