Santa Casa “aperta os cintos” para se manter

Faz pouco menos de um mês que os hospitais filantrópicos e Santas Casas da região Sul do País se reuniram para falar sobre as dificuldades. Também não faz muito tempo que a Santa Casa de Paranaguá – atualmente sob administração do Estado, Hospital Regional do Litoral – foi abalada por uma dívida de R$ 3 milhões. Apesar de a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba ter uma dívida muito maior, atualmente, segundo o diretor-geral, Lourival Scheidweiler, em torno dos R$ 15 milhões, o hospital parece não se abalar: apenas aperta o cinto nos gastos. "A situação geral está sob controle, porém não é uma situação confortável", afirma Scheidweiler, que é economista.

"Somos obrigados a impor uma administração de tempos de guerra, ou seja, de racionalização em todos os sentidos", explica o diretor-geral. Ele não soube falar se já foi verificada a redução dos gastos, porém explica que o hospital procura economizar em produtos como medicamentos e instrumentos de enfermagem. "Sem negligenciar, procuramos fazer a melhor compra", afirma Scheidweiler. Uma das alternativas encontrada é a compra em grande quantidade, já que o hospital faz parte da Aliança Saúde, que envolve a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), outros três hospitais e o plano Saúde Ideal.

Quando a PUCPR assumiu a Santa Casa, em 1999, a dívida girava em torno dos R$ 8 milhões, de acordo com a assessoria da universidade. Apesar de a dívida ter quase dobrado, em seis anos, o diretor-geral afirmou que a situação está bem melhor. "Se a PUC não houvesse apoiado, a Santa Casa já teria fechado. Não acredito que a Santa Casa em Curitiba possa vir a fechar", afirma.

Segundo Scheidweiler, a origem da dívida é "o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem problema na sua origem. Os recursos que o ministério alocou para custear são escassos e defasados. A remuneração pelo SUS é baixa", afirma. O diretor-geral explica que 70% dos recursos do hospital – cerca de R$ 1,5 milhão mensais – vêm do SUS e os outros 30% vêm dos convênios. Ele afirma ainda receber da Secretaria de Estado da Saúde R$ 100 mil mensais, para ajudar na compra de medicamentos. Tudo isso não é suficiente para poder trabalhar com folga. "Hoje, eu diria que se o SUS dobrasse o valor da tabela ainda seria pouco. Estamos fazendo o possível para não dar calote em ninguém. Enquanto não resolver esse problema vamos continuar trabalhando na boardline", afirma.

Deixar de atender pelo SUS está fora de cogitação

Mesmo afirmando estar "tudo sob controle", Lourival Scheidweiler já fala das possíveis saídas para o sufoco. "Deixar o SUS é uma saída que as instituições vêm encontrando. A Santa Casa só não faz isso porque tem uma missão. Mas vamos ter de buscar outras alternativas. A primeira foi buscar o nosso próprio Plano de Saúde (hoje com 30 mil conveniados). Outras seriam parcerias com a iniciativa privada", comenta.

Romper com o SUS já foi estratégia de outra Santa Casa no Paraná. Para resolver uma dívida de cerca de R$ 400 mil, essa foi a alternativa que a Santa Casa de Irati encontrou em junho de 2004.

Apesar das tentativas de conter a dívida, os atendimentos, segundo o diretor-geral da Santa Casa de Curitiba, não foram prejudicados. "Nos atendimentos não influencia em nada. Continuam com o mesmo ritmo e qualidade", afirma o diretor-geral da Santa Casa.

A equipe de O Estado foi verificar, no atendimento ambulatorial pelo SUS da Santa Casa – feito no Centro Regional de Atendimento de Especialidades (CRAE) na Avenida Marechal Floriano Peixoto – os possíveis reflexos da dívida e da política de contenção de gastos. Lá, a fila era grande e muitos usuários não quiseram comentar o assunto, com medo de que demorasse ainda mais. Já os atendentes disseram que o diretor-geral não os autorizou a dar entrevista, dizendo que somente ele comentava o assunto. (NF)

Voltar ao topo