Saibro segue matando rios em Contenda

Pequenos rios da cidade de Contenda, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), estão sofrendo com a grande quantidade de saibro em seus leitos. O material vem das estradas rurais da região. O saibro é carregado pela água da chuva e acaba se depositando nos rios. A quantidade é tão grande que os barrancos de saibro chegam a desviar os cursos dos córregos. Com isso, diversas espécies de árvores, como a Araucária, estão ficando secas e podres. A reportagem de O Estado já havia mostrado a situação há um ano. Mas nada mudou.

Os rios Hortelã, Santo Antônio e Lagoa das Almas, em Contenda, cruzam estradas rurais, que possuem muitas subidas e descidas por causa do relevo da região. Nas vias são depositadas grandes quantidades de saibro, para que se tornem trafegáveis. No entanto, diversas estruturas que ajudariam no escoamento da água da chuva estão danificadas. A conseqüência disso é o despejo de saibro nos rios.

Segundo o presidente da Associação Eco-rios, Iolando Wojcik, as áreas de contenção, as manilhas e as sarjetas estão com problemas. A água das chuvas acaba correndo na própria estrada, com uma força considerável. Quando a água chega nos pontos mais baixos, onde estão localizados os rios, causa a destruição das contenções.

Foto: Chuniti Kawamura

Problema foi constatado em 2005 e associação lançou um alerta.

Além disso, Wojcik acredita que o trabalho feito pelas patrolas da Prefeitura de Contenda não traz resultados. O capim que ficava na beira da estrada foi retirado pelas máquinas, o que prejudicou ainda mais a contenção. ?Os operadores de patrolas passaram por um curso do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) sobre como fazer a manutenção da estrada. Mas eles não colocam em prática o que aprenderam?, conta Wojcik.

De acordo com ele, o correto seria criar canaletas na beira das estradas. Dali, a água e o saibro correriam para o pátio de contenção. O saibro ficaria depositado e somente a água escorreria para o rio. Mas não é isso o que acontece.

Foto: Átila Alberti

Ano passado, a questão ainda não tinha sido solucionada.

Com uma observação rápida, é possível perceber os barrancos de saibro dentro dos rios. Nas áreas perto das estradas, o cenário é preocupante, mas não desolador. Entretanto, isso muda quando se acompanha os percursos dos rios perto das plantações e dentro da mata nativa da região. Existem grandes depósitos de saibros escondidos, em áreas com difícil acesso.

A Associação Eco-rios tem feito o que pode. Os voluntários usam tratores para tentar acertar a estrada e restabelecer os pátios de contenção. Mas não possuem recursos para fazer o trabalho da maneira como deveria ser realizado. Um dos problemas é a falta de combustível para as máquinas. Além disso, os voluntários tentaram fazer uma barreira no Rio Santo Antônio, com o objetivo de conter o saibro em um único ponto, para que um equipamento especializado pudesse retirar o material do local.

A entidade fez diversas reclamações na prefeitura de Contenda, mas não obteve sucesso. Também repassou o caso para a Promotoria da Lapa (cidade próxima), que requisitou a intervenção do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A associação reclama que o acúmulo de saibro nos rios vem acontecendo há anos. Os voluntários pedem ajuda das autoridades públicas para que o saibro deixe de ser jogado nos rios.

Prefeitura diz estar resolvendo o problema

Roger Pereira

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) informou que a questão do depósito de saibro no fundo dos rios é de responsabilidade do município de Contenda, que reconheceu o problema, disse estar trabalhando junto com os moradores para solucioná-lo e culpou as chuvas de quinta-feira pelo grave cenário encontrado pela reportagem ontem.

?O trabalho tem sido feito e a própria Ong (organização não-governamental) que fez a denúncia sabe disso. Mas contra a chuva que caiu ontem (quinta-feira), nada podia evitar os estragos?, alegou o chefe do Departamento de Agricultura e Meio Ambiente do município, Antônio Leche. ?Estamos fazendo tudo de acordo, os operadores de máquinas estão sendo orientados sobre como proceder. Dessa vez, a culpa foi da natureza?, reforçou o diretor de obras, João Fila.

Fila explicou que todos os trabalhadores do setor rodoviário passaram por cursos para operar a patrola e que a Prefeitura tem se preocupado em usar o equipamento o menor número de vezes possível. Além disso, ele revelou que a Prefeitura adquiriu, no ano passado, um máquina capaz de compactar o solo para fazer com que menos saibro se desprenda da estrada correndo para os rios. ?Mas são vários pontos de risco e a solução não é imediata. Ainda por cima, precisamos da colaboração da população, uma vez que tem moradores fechando as valas abertas pelas máquinas para o correto escoamento da água?, explicou.

Leche garantiu que o município instalou alguns tanques de contenção nos pontos mais críticos. ?O saibro que se desprende das estradas e vai aos tanques é recolhido e reaproveitado, não interessa à Prefeitura que ele se perca nos rios?, assegurou.

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