Transporte coletivo

Reajuste da tarifa do transporte vai pesar no bolso do povo

Com o fim da greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba, que durou quatro dias e terminou somente no sábado, o reajuste anual da tarifa técnica ainda aguarda negociação entre os governos municipal e estadual. Para motoristas e cobradores, a greve foi utilizada como justificativa para o iminente aumento na passagem.

Cobrador há 25 anos, Noel Bernardo da Silva, 45, reclama de hostilizações na estação-tubo da Praça Carlos Gomes. “Sempre dou bom dia para os passageiros, mas nesses dias atrás entraram pessoas ameaçando quebrar tudo”, conta. Apesar dos aumentos de 9,28% no salário e de 10,5% no cartão alimentação, os funcionários do sistema dizem que os novos valores causarão pouco impacto na renda deles. “O aumento que recebemos no cartão alimentação é cerca de R$ 30. Com isso não consigo nem comprar papel higiênico para o mês”, diz o também cobrador Agnaldo Lopes.

A partir deste mês cobradores receberão R$ 1.028,10 e motoristas, R$ 1.814,93. “Por conta de todos os descontos, o poder de compra de um motorista hoje em dia é de pouco mais de R$ 1.600. Acredito que ainda seja pouco para quem transporta mais de 200 vidas por dia”, defende Davi Polito, motorista há 7 anos. Na opinião dele, o ganho salarial coloca a população contra os trabalhadores. “Provavelmente a passagem vai subir e o responsabilizado será o trabalhador. Esse aumento mantém o salário baixo e ainda dará argumento para os patrões negociarem com o governo”.

Gerson Klaina
Noel: hostilizado por passageiros.

Já os usuários, além dos transtornos gerados pela greve, agora temem a elevação da tarifa. “Esses dias em que ficamos em casa por conta da paralisação serão descontados pelo patrão. Quem tentava ir para algum lugar se deparava com a falta de organização e incerteza”, aponta o técnico em enfermagem, Nelson Fernandes da Silva, 45. “No final da greve o aumento que eles conseguiram foi quase o mesmo da inflação, mas a passagem subirá horrores”, aposta.

Em dez dias, tem que estar tudo resolvido!

De acordo com cálculos do Departamento Intersindical de Economia e Estatistica do Paraná (Dieese), o acordo coletivo dos motoristas e cobradores resultará em acréscimo de R$ 0,13 na tarifa técnica, atualmente calculada em R$ 2,93. A Urbs ainda aguarda das empresas a planilha com os valores atualizados dos itens que compõem a tarifa técnica e que tiveram aumentos com a inflação. Nenhum representante do Sindicato das Empresas de ânibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) foi localizado ontem pela Tribuna.

O convênio entre a Urbanização de Curitiba (Urbs) e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), responsável por manter a tarifa repassada aos usuários abaixo do valor pago às empresas do transporte, foi renovado até 14 de março. Segundo a prefeitura, esse tempo será utilizado para que o governo municipal negocie com o estadual a definição do subsídio criado pelo Estado durante o último ano de gestão do ex-prefeito Luciano Ducci. O Sindimoc sinalizou que poderá fazer novas paralisações caso a reivindicação para chegar a R$ 100 no cartão alimentação não seja atendida pelo governo estadual.