Preocupação com mudanças climáticas deve ser de todos

Se começar a fazer muito calor, inexplicavelmente, basta ligar ou comprar um ar condicionado? Para muita gente, ainda é assim, sem saber que pode estar contribuindo para esse aumento de temperatura com simples atitudes diárias que poderiam ser mudadas.

Esta semana, o Brasil promete defender posições firmes e cobrar medidas dos países desenvolvidos de proteção ao meio ambiente na conferência sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas, que começa amanhã, em Copenhague.

E, enquanto na Dinamarca se espera que as políticas mundiais sejam definidas, a dificuldade de mobilização das pessoas para as mudanças climáticas persiste. Especialistas alertam que o problema do aquecimento global não é apenas uma questão “macro”, a ser discutida pelos principais governantes do mundo.

Cada um pode e já deveria estar fazendo a sua parte. Informações sobre o tema não faltam. Todos sabem que o planeta está passando por alterações e que é preciso fazer a sua parte. Mas participar com medidas simples (ver quadro), efetivamente, parece ainda estar longe da realidade de muitas pessoas.

Para a bióloga Nurit Bensusan, autora do livro Meio Ambiente: e eu com isso?, isso acontece porque muita gente não tem noção exata de que esbanjar energia tem reflexos imediatos na sua vida e no seu bolso.

Por exemplo, o tratamento da água depende da qualidade com que ela chega para o procedimento. “Isso influi diretamente no valor da conta de água. É só um caso em que a questão ambiental pode piorar a exclusão social, pois se a conta de água triplica, alguns vão achar caro mas continuarão pagando. Mas tem muita gente neste País que não vai ter dinheiro para pagar essa conta”, relaciona Bensusan.

Por outro lado, muitas dessas mudanças podem ser mais fáceis com ações estimuladas pelo poder público. “Melhorar o transporte público vai permitir às pessoas deixarem o carro em casa pelo menos duas ou três vezes por semana”, exemplifica a coordenadora do setor de mudanças climáticas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema), Manyu Chang.

“Para ter envergadura nas ações e nos resultados, é muito importante que se tenha políticas públicas, mas ao mesmo tempo, ações individuais”, ressalta Chang.

Segundo ela, mudanças nas leis poderiam provocar essas alterações mais rapidamente. “Novas construções ou casas a partir de uma certa dimensão poderiam ter o comprometimento de instalar aquecedor solar, o que é relativamente fácil para os resultados que se obtém”, sugere.

Redução em impostos, como no IPVA para quem tem carros flex, ou no IPTU para quem faz uma construção sustentável, são outras propostas que poderiam ser adotadas pelos governos, que podem ganhar competitividade.

“Quando se aplica essas propostas, além de reduzir o aquecimento, há vantagens secundárias e pode se começar a ter lucro. A economia com baixo uso de carbono é se preparar para o futuro”, acredita Chang.

Contundência questionada

O discurso do presidente Lula de que vai provocar os países desenvolvidos em Copenhague a assumirem metas para diminuir o aquecimento global pode não ser suficiente.

O consenso entre especialistas que vão acompanhar a comitiva brasileira durante a conferência é de que o País está, sim, desempenhando seu papel, mas poderia fazer um pouco mais, propondo medidas mais contundentes.

Uma meta global condizente com o que os cientistas orientam seria de redução de 40% na emissão de dióxido de carbono a ser atingido até 2020, em relação à medição de 1990, e em 2050, 80% de redução, para que a temperatura global não se eleve em 2 ºC até o fim do século.

O problema é que, até agora, as propostas de cada país não seguem uma mesma base. A reduç&atilde,;o sugerida pelo Brasil, de 36,1% a 38,9%, é sobre o que está projetado para ser emitido até 2020.

A proposta mais ousada é a da Noruega, de diminuir a emissão em 40%, em relação aos índices de 1990. Lá fora, Lula voltou a defender o uso de biocombustíveis, contraditoriamente à defesa interna de exploração do petróleo.

“Aqui só se fala em pré-sal, em criar uma indústria petrolífera gigantesca. Não faz sentido investir numa tecnologia do século passado, que o mundo todo está abrindo mão”, opina o engenheiro florestal e coordenador do Observatório do Clima, André Ferretti.

Outra crítica é sobre a proposta de redução do desmatamento na Amazônia, de 80% até 2020. “Quase 100% do desmatamento na região é ilegal e deveria acabar. O ideal é que o governo dê alternativas aos proprietários”, diz Ferretti.

Responsabilidade de todos

A contribuição para atenuar as mudanças climáticas não é responsabilidade exclusiva dos governos. Reduzir o consumo, reciclar produtos e reutilizar produtos sempre que possível são as principais medidas que podem ser tomadas individualmente. Abaixo, algumas dicas de alteração no comportamento cotidiano que podem fazer a diferença:

– Use menos água quente, que consome mais energia.
– Troque lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, que duram até dez vezes mais, são mais eficientes e economizam até um terço da energia elétrica.
– Não deixe aparelhos em stand by, que consomem energia sem necessidade.
– Desligue ou tire da tomada todos os eletrodomésticos quando não estiver usando.
– Descongele geladeira e freezer antigos a cada 15 ou 20 dias.
– Tampe as panelas enquanto cozinha, aproveitando o calor que simplesmente se perderia no ar.
– Repare os vazamentos tão logo eles sejam identificados.
– Feche a torneira enquanto estiver se ensaboando, escovando os dentes ou se barbeando.
– Reutilize a água da máquina de lavar para limpar pisos e calçadas.
– Calibre os pneus a cada 15 dias.
– Quando for trocar de carro, escolha um modelo que consuma menos. Carros menores e de motor 1.0 poluem menos.
– Reunir-se por videoconferência evitam deslocamento e perda de tempo.
– No trabalho, use uma caneca ou um copo de vidro ao invés dos copos de plástico.
– Não queime lixo, que emite gás carbônico.
– Armazene o óleo de frituras em garrafas PET e não jogue-o no ralo da pia. Um litro de óleo pode contaminar até 1 milhão de litros de água potável.
– Use somente pilhas e baterias recarregáveis. Embora mais caras, podem ser recarregadas em média 100 vezes.
– Se for construir uma casa nova, leve em consideração a luminosidade e climatização natural. Se puder, instale um sistema de aquecimento solar para substituir a eletricidade no aquecimento de água, na iluminação e no funcionamento de aparelhos domésticos.

Fonte: Coordenadoria de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

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