Pichadores não perdoam nem a Catedral

Nem a Catedral Basílica, uma das edificações históricas e símbolo de Curitiba, escapa da ação dos pichadores. As paredes externas de trás da igreja, localizadas na Rua Padre Júlio de Campos, vêm sendo vítimas constantes de pichação. Por mais que se faça limpeza, dias depois tudo aparece riscado novamente.

O padre Vilson Alves de Souza Filho, responsável pela paróquia, conta que já perdeu a conta do número de vezes que promoveu serviços de limpeza. O último aconteceu há cerca de seis meses, mas vândalos voltaram a agir alguns dias depois.

"A Rua Padre Júlio de Campos é escura e pouco movimentada. Não temos como ficar vigiando as paredes a todo momento. Além disso, as pichações geralmente são realizadas durante a noite. A gente pinta e as pessoas vão lá e picham de novo. É muito difícil combater o problema", afirma.

Além de enfeiar a cidade e dar um aspecto de sujeira à edificação, a pichação contribui para que as despesas da Catedral aumentem. Como a edificação é histórica, necessita de pintura especial, obedecendo a determinações do Patrimônio Histórico. "Não podemos fazer a limpeza de qualquer jeito e temos que utilizar sempre a cor determinada pelo Patrimônio. Isso gera gastos e o dinheiro que poderia, por exemplo, estar sendo utilizado em projetos sociais acaba indo na limpeza das paredes".

Nos últimos meses, o padre não tem trabalhado na limpeza, pois existe um projeto de restauro da Catedral que inclui nova pintura. Porém, na última semana, com a intenção de ajudar, integrantes da organização não governamental Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil – que voluntariamente promove trabalhos de limpeza em diversas regiões da cidade – acabaram comprometendo ainda mais a situação das paredes.

"Sem nos consultar, integrantes da associação jogaram cal sobre as paredes, cobrindo o que havia sido pintado. Sei que a intenção das pessoas que fizeram isso era boa, mas este tipo de coisa jamais pode ser feita em um prédio histórico. Eles queriam ajudar, mas acabaram cometendo um erro", declara o padre. "Agora, antes de poder limpar a pichação e pintar novamente as paredes, teremos que retirar a cal".

A coordenadora da associação, Estela Rhode, admite que passar cal nas paredes da Igreja foi um erro. O ato foi realizado pelos zeladores de vizinhança, pessoas voluntárias que se comprometem a limpar a pichação realizada em regiões específicas da cidade. "Eles erraram por não saber que não poderiam passar a cal no local. Porém, já conversamos com o padre Pedro e, na próxima terça-feira, estaremos corrigindo o erro. Vamos tirar a cal e pintar as paredes na cor original", declara.

Campanhas não vêm resolvendo

São inúmeras as campanhas – mantidas tanto por órgãos públicos quanto por organizações não governamentais – que tentam conscientizar a população curitibana sobre os problemas gerados pela pichação. Mesmo assim, é comum as pessoas, ao se deslocarem pela cidade, encontrarem muros, paredes, portas e portões totalmente riscados.

Segundo a Prefeitura municipal, os locais mais atingidos são as regionais e Boa Vista, onde, respectivamente, foram efetuadas dezesseis e 32 prisões de pichadores desde o início deste ano. "Pichar é crime. Tira a beleza da cidade e destrói tanto o patrimônio público quanto o privado", diz o supervisor da Guarda Municipal, Ted Jorge Bridarolli de Jesus.

Atualmente, está em vigor uma lei municipal que prevê multa de 714 Ufirs a todos os pichadores, independente de idade. No caso de menores de 18 anos, o valor deve ser pago pelos pais e o pichador é condenado a cumprir penas alternativas, prestando serviços a comunidades. Pessoas com mais de 18, além da multa, são levadas à prisão, com penas que variam de três a quatro meses.

Desde 2003, a Guarda Municipal mantém o projeto Cidade Limpa, no qual policiais descaracterizados trabalham para prender pichadores. Ted conta que, em média, uma pessoa é presa por dia na cidade. "É um trabalho de formiguinha", define. "Prendemos os pichadores, mas muitas pessoas demoram para se conscientizar do mal gerado pela pichação. A educação deve começar pelas crianças".

A coordenadora da organização não governamental Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil, criada há cinco anos, Estela Rohde, é da mesma opinião. Mensalmente, ela e outros integrantes da ONG realizam palestras em escolas com o objetivo de ensinar as crianças que pichar é crime. "É realmente um trabalho lento, com resultados a longo prazo. As crianças são muito mais abertas às informações. Se elas forem conscientizadas, serão adultos muito mais responsáveis". Como alternativa à pichação, a associação apresenta a grafitagem. (CV)

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