Pacientes em situação precária no Hospital de Clínicas

A direção do Hospital de Clínicas (HC) procurou ontem o Ministério Público Federal (MPF) para denunciar a situação precária do atendimento na instituição. A greve dos servidores técnico-administrativos, iniciada na última segunda-feira, coloca em risco a vida de pacientes. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HC, por exemplo, estava lotada e apenas a metade dos servidores estava trabalhando. Segundo a assessoria de imprensa do MPF, a instituição está estudando a possibilidade de entrar na Justiça com uma ação civil pública exigindo a volta dos trabalhadores.

Segundo a diretora de Assistência do HC, Mariângela Honório Pedrozo, essa paralisação é a mais grave já registrada no hospital, pois atingiu setores considerados críticos, como a UTI, a UTI semi-intesiva, o Pronto Atendimento (PA), centro cirúrgico e a Central de Marcação de Consultas. O hospital comunicou ontem o Ministério Público Federal sobre a situação e aguarda uma determinação que obrigue todos os funcionários dessas unidades a voltar ao trabalho.

Ontem à tarde, enquanto Mariângela dava entrevista coletiva, um médico chegou até a sua sala querendo saber onde internaria um paciente que havia acabado de sair de uma cirurgia e precisava ser transferida para a UTI, que estava lotada. Lá, há 14 leitos e apenas cinco funcionários trabalhando. O normal são nove. A unidade semi-intesiva tinha vagas, mas não havia funcionários suficientes para o atendimento. Há 25 vagas e 18 leitos ocupados, mas só a metade dos funcionários está trabalhando, o que inviabiliza mais internações. ?Se acontecer algo mais grave com os pacientes, a responsabilidade será dos trabalhadores que estão faltando?, avisou Mariângela.

Outro caso preocupante era o do irmão da dona de casa Rosa Bolina. Desde terça-feira, eles estavam esperando uma vaga na UTI semi-intensiva. O irmão tem anemia falciforme. ?Ele está em uma enfermaria, mas precisa de cuidados especiais. Os médicos estão fazendo o que podem, mas garantem que não podem conseguir a vaga pois não tem funcionários. Meu irmão não pode pagar com a vida por essa greve?, reclamou. Além disso, outros dois pacientes estavam no PA, em respiradores, à espera de uma vaga. Nesse setor, apenas quatro dos seis trabalhadores compareceram e a unidade foi fechada. Apenas casos com risco de morte foram atendidos.

Da média de 40 cirurgias feitas no HC por dia, apenas metade desse número está sendo realizada. Mas se a greve continuar, Mariângela estima que essa quantidade poderá cair para menos de 10 cirurgias diárias, como ocorreu ontem. O mesmo deve acontecer com as internações, que são, em média, 30 por dia. ?Nós somos o maior hospital público do Paraná e, se tivermos que encaminhar nossa demanda para outros hospitais, isso pode provocar um caos no sistema no Estado?, falou. Por dia, passam pelo HC uma média de três mil pacientes.

Informações divergentes sobre a paralisação

Foto: Lucimar do Carmo

José Carlos Belotto é presidente do Sinditest.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (Sinditest), José Carlos Assunção Belotto, passou informações diferentes sobre a greve. Segundo ele, houve uma conversa com a direção do hospital e o HC não teria pedido a volta dos funcionários ao trabalho ao MPF, mas apenas comunicado a greve. Belloto disse ainda que em todas as unidades cerca de 50% dos servidores estão trabalhando e que a categoria está aberta a atender qualquer solicitação do hospital para aumentar o número de funcionários em setores mais críticos.

Na Universidade Federal do Paraná, os restaurantes e bibliotecas foram afetados pela greve. Na segunda-feira, os servidores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) resolveram aderir ao movimento e cruzar os braços.

Motivos

Os servidores aderiram à paralisação nacional por tempo indeterminado. O movimento é promovido pela Federação de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra), por motivos diversos. Entretanto, as principais reivindicações da categoria estão relacionadas a medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e à Emenda 3. O PAC tem um projeto de lei poarlamentar (PLP), n.º 1, que limita o crescimento da folha de pagamento do governo federal em 1,5% ao ano. Isso significa congelamento do salário dos servidores até 2016 e não-realização de novos concursos públicos para reposição de vagas.

Já a Emeda 3 prevê a contratação de pessoas jurídicas e ameaça diversos direitos dos trabalhadores, como férias e licença maternidade. Outra crítica dos servidores é quanto a um estudo realizado pelo Grupo de Trabalho Interministerial que prevê a transformação dos hospitais universitários em fundações estatais.

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