Pacientes com TDAH exigem atenção especial

A dependência química de pacientes com Transtorno do Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH) deve ser tratada paralelamente ao atendimento já dispensado por causa da doença. Este foi o tema do simpósio promovido ontem pelo laboratório Janssen-Cilag durante o 24.º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em Curitiba. Estudos recentes mostram que os pacientes com TDAH têm mais propensão em se tornar dependentes químicos.  

O TDAH se caracteriza por um nível elevado de desatenção, hiperatividade motora e impulsividade. É mais freqüente ainda na infância e atinge principalmente crianças em idade escolar. A maioria dos sintomas aparece antes dos 12 anos. O indivíduo portador desse transtorno mental tem muitas dificuldades em realizar trabalhos escolares ou qualquer atividade. A impulsividade leva a ações precipitadas. A prevalência é de 3% a 5% das crianças no mundo. Apesar de estar mais concentrado na infância, o TDAH pode permanecer durante a adolescência e a vida adulta.

Segundo o médico Paulo Mattos, professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção, as pessoas com TDAH podem ter mais pré-disposição para o uso de substâncias ilícitas em relação ao restante da população. ?A pergunta que fica é se devemos fazer a identificação precoce e iniciar o tratamento para diminuir esse risco. Resolver usar medicação de uso controlado não é um paradoxo nesse sentido?, comenta.

As drogas mais usadas pelos portadores de TDAH são álcool, maconha e cocaína. Os remédios utilizados no tratamento do transtorno causam a diminuição do desejo pelas drogas e não deixam a substância ilícita dar o ?barato?, de acordo com Mattos. ?Mas somente os medicamentos para TDAH não são capazes de controlar o vício. Paralelamente, é preciso fazer um tratamento para a dependência química. Ajudaria muito a ligação entre as equipes dos dois tratamentos?, acredita Mattos.

O médico diz que muitas famílias ainda têm um estigma muito forte sobre doenças mentais e, por isto, têm medo de procurar tratamento para os filhos quando os primeiros sintomas aparecem.

?Há um preconceito muito forte sobre as doenças mentais e o trabalho do psiquiatra. Muitos continuam achando que é médico de loucos. Muitas famílias também têm medo de administrar remédios para uma criança. Mas o medicamento deve ser dado e não é nada perto de uma doença que causa danos para a vida do portador?, avalia Mattos.

Livro lançado durante congresso

Foto: Lucimar do Carmo/O Estado

Carmita: ?Sem indisposição?.

Pouco mais da metade (50,9%) das mulheres e 48,1% dos homens brasileiros possuem queixas sobre seu desempenho e satisfação sexuais. Mesmo com estas dificuldades, pelo menos 70% dos brasileiros consideram seu próprio desempenho sexual de bom a excelente em qualquer etapa da vida. Estes foram alguns dos resultados de uma pesquisa, realizada com sete mil pessoas, que acabou originando o livro Sexo pode ser – Menos mito e mais verdade, da médica psiquiatra Carmita Abdo. Ela é uma das maiores especialistas em sexualidade do país. O lançamento do livro aconteceu ontem, durante o 24.º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Curitiba.

A pesquisa reflete o que realmente pensam os brasileiros sobre o sexo. O levantamento foi realizado nos anos de 2002 e 2003 com brasileiros maiores de 18 anos em várias capitais. O estudo é considerado o maior e mais amplo dentro desta temática no país. Para a médica, o dado mais surpreendente foi os entrevistados indicarem que o sexo é bom ou excelente em 70% das vezes. ?Muitos estão pensando que o sexo está com problemas, mas continuam achando bom. A disposição para a vida sexual não é intimidada diante das dificuldades?, afirma Carmita. Outro resultado que causa surpresa é o fato de 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens não fazerem sexo.

Entre estas dificuldades está a disfunção erétil. 45% dos homens assume que possui dificuldade de ereção, em graus variados. A proporção é a mesma do que em outros países. Os homens também se queixam da ejaculação precoce. Isto é um problema para 26% dos homens que participaram da pesquisa. Para as mulheres entre 18 e 25 anos, o principal problema é a falta de orgasmo – 33% das entrevistadas disseram passar por isso. O livro, com formato de ?pocket book?, também aborda diversas facetas do sexo, como troca de parceiros, infidelidade, baixa auto-estima e iniciação sexual.

Pesquisa aponta problemas mentais em mendigos

Rosângela Oliveira

Foto: Arquivo/O Estado

Cerca de 30% dos mendigos apresentam transtornos mentais.

Uma pesquisa feita pelo Departamento de Psiquiatria da Federação Brasileira de Hospitais (FBH) identificou que existem cerca de 500 mil mendigos vagando pelas grandes cidades brasileiras. Deste total, cerca de 30% apresentam transtornos mentais graves e quase 70% são dependentes de drogas. Aliado a esse problema, o levantamento identificou que não existem programas de assistência para essa população, agravada pela falta de leitos psiquiátricos, tanto particulares quanto os mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O presidente do departamento de Psiquiatria da FBH, Eduardo Spíndola, apresentou ontem em Curitiba – durante o 24.º Congresso Brasileiro de Psiquiatria – um vídeo que apresenta a problemática. ?Trouxe isso para o debate científico porque não há providências, e isso não pode passar desapercebido das pessoa que têm obrigação de cuidar. Esses doentes são os excluídos dos excluídos, porque não tiveram nenhuma ajuda para tentar sair dessa situação?, desabafou. Segundo ele, devido ao grave quadro, são cada vez mais freqüentes os casos de extermínio e de violência praticados contra os doentes de rua.

Além disso, acrescentou o médico, ?quando o doente mental ganha a rua ninguém vai assistí-lo. Se alguém desmaia na rua, logo se mobilizam para ajudar. O mesmo não acontece com o doente mental, que só é percebido quando começa a incomodar, e daí normalmente chamam a polícia e não a saúde pública?. Essa situação se agravou, na opinião de Spíndola, devido às políticas errôneas de saúde mental no país, o que provocou a desativação de leitos hospitares. Segundo ele, restam no Brasil cerca de 40 mil leitos psiquiátricos, o que representa 0,23 leitos para mil habitantes. O que está longe do que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), que prevê um leito para mil habitantes, e o próprio Ministério de Saúde, com 0,45 por mil habitantes. Isso estaria gerando um déficit de 30 mil leitos.

Para mudar a situação, o representante da FHB defende que a sociedade precisa se mobilizar para cobrar uma atitude do poder público em promover programas de saúde para doentes mentais de rua.

Voltar ao topo