Oração substitui missa no Anhangava

A tradicional missa de 1.º de maio no Anhangava, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), este ano foi substituída por uma oração pela paz realizada no cume do morro, e contou com a participação do pároco da Paróquia São Sebastião, a principal do município, Rodinei Thomazella, que pela primeira vez subiu até o local. "A subida é difícil, mas é muito bonito ver a fé do povo, que todo ano mantém a tradição de chegar ao cume e pedir pela paz", afirmou.

A missa no topo não aconteceu devido a uma proibição do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que considerou que o evento religioso, pelo fato de atrair uma grande quantidade de pessoas, acaba contribuindo com a degradação ambiental do morro. Porém, o que ninguém entendeu é por que a missa foi proibida, mas a subida de um grande número de peregrinos continuou autorizada. Técnicos do IAP que se mantiveram de plantão no local não quiseram dar declarações.

"O grande movimento de pessoas no Anhangava acontece independente da missa. Isso porque é uma tradição subir o morro nessa data. Acredito que o impacto ambiental é verificado com ou sem missa e não vejo motivos para que a celebração religiosa não possa ser realizada no alto", declarou o secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Quatro Barras, Marcos Pereira.

Visitantes

A não realização da missa, que acontece há 55 anos, chateou grande parte das pessoas que visitou o Anhangava. Muitas não sabiam que a celebração havia sido proibida e subiram ao cume, a cerca de 1,2 mil metros de altitude, só para assistí-la. Era o caso do funcionário público Marcos Rogério Lorenço, que subiu com a filha de seis anos de idade. "Há dez anos assisto a missa de 1.º de maio. A subida é puxada e por isso fiquei chateado ao chegar ao alto e descobrir que a celebração não seria realizada. Levei mais de uma hora e meia para fazer o percurso até o cume", contou.

A secretária Edivania Maduro César visitou o Anhangava pela primeira vez na manhã de ontem, mas pôs fim à subida no meio do caminho após saber que a celebração não seria realizada. Já o guarda municipal de Borda do Campo, Adinã da Silva, resolveu nem subir. "A missa é uma tradição e não deveria ser impedida. Estou bastante entristecido, pois acredito que não é a celebração a responsável pelos danos ambientais verificados no morro", disse.

Comerciante

Os comerciantes que vendiam bebidas e alimentos ao pé do morro também estavam decepcionados. A proibição acabou afugentando muita gente do Anhangava e, conseqüentemente, as vendas foram afetadas. "Em anos anteriores, eu costumava vender entre 200 e 250 sanduíches durante a manhã. Hoje (ontem), vendi apenas oitenta, o que representa menos da metade", reclamou o vendedor de cachorro-quente, Sebastião Carlos Lopes.

Dia do Trabalho com passeios e passeatas

Nájia Furlan

Chuniti Kawamura/O Estado
Mais de mil motoqueiros na rodovia, a caminho de Paranaguá.

Passeios e passeatas marcaram o 1.º de maio na Grande Curitiba. Os trabalhadores reivindicaram, aproveitaram alguns serviços e, quem pôde, tirou o dia para o lazer. No bairro Barreirinha, o dia começou com uma passeata contra o desemprego. Em Colombo, a caminhada foi em favor da paz e, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a festa reuniu mais de dez mil pessoas e o principal atrativo eram os serviços gratuitos. Mais de mil motoqueiros também aproveitaram o dia de tempo aberto para somente passear.

A concentração das motos aconteceu na Rua João Negrão. De lá, passando todo o centro e contornando o bairro Santa Cândida, eles saíram pela BR-116, com destino a Paranaguá, pela Estrada da Graciosa. A quantidade de apaixonados pelas duas ou três rodas chamava a atenção de pedestres e dos demais viajantes. Quem não pôde passear nas próprias comunidades, aproveitou a data para reivindicar. Pelo oitavo ano consecutivo, os moradores da Barreirinha se encontraram em frente à Igreja de Santa Gema e, pela Rua Anita Garibaldi, caminharam até o terminal do bairro, contra o desemprego. A passeata foi marcada por reflexões e encenações sobre o tema. "Queremos chamar a atenção das autoridades sobre o desemprego. Aqui na comunidade percebemos o problema pelo tanto de cesta básica solicitada. Só aqui atendemos mais de 500 famílias. O que pedimos são mais ações e projetos solidários", explica o organizador, padre Leocádio Zytkowski.

Paulo Roberto Domingo, de 60 anos, participava da passeata que, diretamente, lhe era importante. Borracheiro, ele tocava o próprio estabelecimento até que ficou doente e perdeu tudo. Desempregado há três meses, ele se vira como catador de papel. "Eu até queria um emprego. Com a minha idade e sem estudo, se tivesse um emprego ficaria mais sossegado", desabafa.

Colombo

No Alto Maracanã, em Colombo, a passeata foi para chamar a atenção das autoridades sobre o descaso com a Estrada da Ribeira. Com faixas, bandeiras brancas e muitas canções, os manifestantes também pediam paz. Uma das reivindicações para a via era um semáforo no bairro e uma passarela para pedestres. "Não tem sinalização e, principalmente nesse cruzamento do Alto Maracanã, é horrível. Para atravessar a pé, então, é um sufoco. Toda semana tem acidente", afirma Eva Camilo, 57 anos, moradora do local.

Cidade Industrial

Na Praça Central da CIC a festa era grande e contava com participantes de toda a Região Metropolitana (RMC). A principal pauta da comemoração era o salário mínimo regional. O comitê pela aprovação do salário a R$ 437 estava no local colhendo milhares de assinaturas. Além de assinarem o documento, quem compareceu à praça pôde aproveitar serviços como vacina de gripe aos idosos, cortes de cabelo, dar entrada nos papéis para o casamento e ainda sair de lá com a documentação pessoal em dia, tanto carteira de identidade quanto carteira de trabalho. Foi o que fez Rose Ramos, 38 anos. "Às 8h sai do Sabará e vim aqui para fazer a identidade do meu filho de onze anos", diz ela na fila que já fazia volta.

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