Nove detentos lutam por um lugar ao sol

Em todo o Paraná, centenas de pessoas esperam o resultado do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que deve ser divulgado no início do ano que vem. Entre elas, estão nove detentos que cumprem pena em presídios na capital e em municípios próximos. Apenas na Colônia Penal Agrícola de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), quatro presos participaram do concurso.
Nos dias de provas, os detentos deixaram a colônia para participar do vestibular.

Assim como todos os outros candidatos, eles fizeram os testes em locais pré-determinados pela UFPR. ?Levamos os detentos até os locais de prova e cuidamos para que eles não se sentissem oprimidos perante os outros candidatos pelo fato de estarem presos?, conta o diretor da colônia, João Krainski Neto. ?Desde que os presos tenham boa vontade de prestar vestibular, temos muita boa vontade em ajudá-los.?

Segundo o diretor, os detentos são sempre incentivados a estudar e melhorar seu nível cultural. Isso faz com que eles tenham a auto-estima melhorada, se sintam valorizados e tenham uma perspectiva de futuro para eles próprios e suas famílias.

?Se um detento da colônia consegue um resultado positivo no vestibular, acaba se tornando um bom exemplo e sendo admirado pelos colegas?, afirma. ?Isso faz com que outros presos se sintam motivados a também tentarem entrar em um curso superior.?

Se algum dos detentos que participou do concurso vestibular for aprovado, João explica que vai tentar, junto à Vara de Execuções Penais, uma autorização para que o estudante possa deixar a colônia todos os dias para estudar. ?No momento, nenhum dos detentos faz curso superior, mas já tivemos casos de presos que deixavam a colônia todos os dias para ir à faculdade?, lembra. ?Se houver aprovados, trabalharemos bastante para que eles tenham autorização para sair da colônia e para colocar nossos técnicos à disposição deles.?

Detentos

Para os detentos que prestaram vestibular, a oportunidade de fazer um curso superior representa um recomeço de vida. Zenilton Cabral de Oliveira, 44 anos, preso há quatro anos, tentou pela primeira vez o concurso da UFPR. Embora seu sonho seja cursar Direito, ele concorre a uma vaga no curso de História.

?Gosto muito de História e acredito que, no momento, tenho mais chances de obter sucesso nesse curso?, conta. ?Penso em fazer Direito no futuro. Sei que estou concorrendo com pessoas muito mais preparadas, mas tenho muita esperança em passar. Conferi o gabarito das provas e acho que fui muito bem na maioria delas. Só tive dificuldades em Física e Química.?

Já o detento José Augustinho Luciano, 45, preso há oito anos, tentou uma vaga para Direito na UFPR e, no último dia 6, ficou sabendo que foi aprovado no vestibular de UniBrasil de Curitiba. ?Não tenho condições financeiras para pagar uma instituição particular e por isso desejo muito passar na Federal?, diz. ?Se eu não conseguir, vou tentar obter uma bolsa de trabalho na particular, pois não quero que ninguém me dê nada. Sei que é difícil, mas a esperança é sempre a última que morre.?

Para estarem preparados para o concurso, Zenílton e José buscaram informações com as professoras do sistema de educação da colônia e, nas horas vagas, estudaram sozinhos. José leu todos os livros exigidos no vestibular da UFPR e estudou aos sábados e domingos. Zenilton emprestou apostilas do filho, que tem 21 anos e se prepara para prestar o concurso público promovido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

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