Morretes está debaixo d?água

As chuvas, que começaram sábado e deram trégua ontem ao meio-dia, estão castigando Morretes, no litoral do Estado. A Defesa Civil registrou 282 pessoas desabrigadas, que foram alojadas, temporariamente, na Escola Rocha Pombo. Na Vila Freire, do lado esquerdo da linha do trem, a água chega a cobrir mais da metade dos muros. Por volta das 12h, as duas saídas da cidade estavam interditadas pela Polícia Rodoviária Estadual. A situação melhorou à tarde, quando parou de chover e as ruas liberadas. “Moro em Morretes há 20 anos e nenhuma enchente tinha chegado à minha casa antes”, disse um dos moradores.

“O número de desabrigados é uma referência, mas pode ser ilusório, porque muitas pessoas perderam suas casas e se recusam a vir para cá. Outras, como eu mesmo, tiveram a casa alagada e estão com parentes”, revelou o membro da Comissão Municipal de Defesa Civil, Eduardo Figueiredo Mercado. O prefeito Helder Teófilo Santos (PMDB) acompanhou a situação e disse que qualquer tipo de doação, como remédios, alimentos e principalmente colchões são aceitos.

Todo lado

Os desabrigados são de todas as partes de Morretes, mas alguns bairros como o Centro, Vila Freitas e a Vila Santo Antônio foram mais prejudicados pelas chuvas. Os três rios da cidade, Nhundiaquara, Pinto e Marumbi transbordaram. “Perdi geladeira, fogão, televisão e até a casa”, contou o artesão Martinho dos Santos, 71 anos, que morava com mais seis pessoas em duas casas de madeira no bairro Raia Velha. Ele disse que todos os instrumentos musicais se perderam com a chuva. “Agora é esperar que Deus mande mais material para eu fazer novos instrumentos, porque com aposentadoria de R$ 240,00 que ganho não dá para quase nada”, reclamou.

Segundo o meteorologista Itamar Moreira, do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), hoje o dia será de mais chuva no litoral. “Na segunda (hoje) chove o dia todo, depois, nos próximos três dias a previsão é de pancadas isoladas”, disse. Com isso, o prejuízo dos moradores e comerciantes locais vai aumentar. O açougueiro Carlos Bastos está há um ano em Morretes e contou estar surpreso com a enchente. “O motor da minha câmara frigorífica molhou. Posso ter um prejuízo de até R$ 7 mil”, revelou.

Situação pode piorar mais

O secretário-executivo do Conselho do Litoral, José Álvaro Carneiro, que está acompanhando de perto o problema em Morretes, junto com as equipes da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, disse que a enchente pode se agravar nas próximas horas por causa do efeito maré.

Ele explicou que a maré, quando sobe, represa a água doce. E o nível da água sobe, aumentando ainda mais o volume dos rios e as possibilidades de alagamentos das áreas críticas. Carneiro citou, como exemplo, o Rio Nhundiaquara, em Morretes, que está com vazão “inacreditável”. “A chance de resgate se alguém cair no rio é muito pequena. Por isso, será necessário, também, o reforço de equipamentos de segurança”, alertou.

Alagamentos em Paranaguá

Paranaguá também foi atingida pelas fortes chuvas, mas ao contrário de Morretes, o problema maior foi na noite de sábado. O Corpo de Bombeiros registrou 18 alagamentos de casas. Algumas pessoas também foram levadas para colégios, mas, na tarde de ontem, com a melhora do tempo, já estavam retornando para suas casas. “Os bairros mais atingidos foram Vila São Jorge, Parque Agari e Imboguaçu”, revelou o soldado Costa.

Pontal do Paraná também teve ruas e casas alagadas, mas as conseqüências não foram tão graves. Segundo o capitão Paulo Henrique Souza, do Corpo de Bombeiros, a maioria foi de ruas inundadas . “Metade de uma ponte cedeu no balneário Primavera, mas não houve vítima, apenas prejuízo para o município”, contou. (LM)

Monitores ajudam crianças

Monitores do projeto Viva o Verão, da Paraná Esporte em parceria com o Grupo Paulo Pimentel, viveram um dia diferente ontem. Acostumados a comandar recreação para pessoas e crianças que estão se divertindo nas praias, eles ajudaram as crianças que tiveram suas casas inundadas. Pela manhã, três monitores fizeram atividades com 32 crianças abrigadas no Colégio Rocha Pombo.

A curitibana Michele Araújo contou que no início foi complicado lidar com a situação, principalmente porque as crianças choravam a perda de suas casas. Com o passar do tempo gostaram das brincadeiras e um pouco da dor foi aliviada. “Eu nunca tinha visto nada como isto antes, só pela televisão. É algo irreal”, revelou Michele, visivelmente emocionada com a situação.(LM)

Cancelada viagem de ônibus

Fábio Schäfer

O temporal também bloqueou o acesso a Cerro Azul e Adrianópolis. A empresa Curitiba Cerro Azul, que leva diariamente passageiros às duas cidades e também a Apiai (SP) foi obrigada a cancelar as viagens. Para Adianópolis, cinco barreiras bloquearam a BR-476 (Estrada da Ribeira) nos quilômetros 7, 17, 18, 23, 40 e 43, este último no trecho asfaltado da rodovia. Os deslizamentos de terra também impossibilitaram o tráfego de veículos entre aquela cidade e Tunas do Paraná.

Já no trecho que liga Rio Branco do Sul a Cerro Azul, pela PR-092, foi o trasbordamento dos rios Ponta Grossa e Itupava que impede a passagem de veículos e pedestres. A água chegou a cinco metros acima do nível dos rios, colocando em risco as pontes que ligam as cidades. “Não temos como cumprir nossas viagens”, afirmou Dorival Picolli, diretor da empresa Curitiba Cerro Azul. Segundo ele, na BR-476, km 7, uma pedra bloqueia a rodovia e será necessário o uso de dinamite para retirá-la.

As viagens estão suspensas até hoje à tarde, caso não volte a chover. Ainda ontem, a empresa de ônibus enviou ofício ao Dnit -Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, pedindo providências para restabelecer o tráfego.

A chuva também provocou alguns estragos, embora de proporções menores, em Curitiba e região. Os bombeiros atenderam a três ocorrências de princípio de alagamento na CIC, mas foi preciso apenas orientar os moradores, já que a água não entrou nas casas. Em Piraquara, o Rio Iraizinho transbordou e alagou uma residência, mas não há desabrigados.

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