Mesários tentam fugir das eleições

Desde que completou 18 anos, a advogada Marina Zerbetto Furlan é convocada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para trabalhar como mesária nas eleições. Apenas uma vez pediu dispensa do chamamento. Este ano já está pronta para trabalhar em primeiro de outubro. Apesar de considerar que a função não é uma das mais divertidas, entende que está fazendo sua parte. ?Como tenho um grau de escolaridade mais elevado, devo fazer minha parte para ajudar que o processo eleitoral seja o menos fraudulento?.

Mas nem todos têm a mesma consciência que Marina, pois em cada eleição os tribunais eleitorais convocam um grande número de eleitores para conseguir preencher a totalidade de mesários necessários para atuar no processo. Só a Zona Eleitoral 176, em Curitiba – são 10 zonas eleitorais na capital – , convocou quatro mil eleitores para garantir 1.370 mesários. De acordo com o chefe da 176, Dinarte Bianchi, a escolha é feita através do perfil do eleitor e os convocados têm três dias para comparecer no cartório eleitoral para serem nomeados ou pedirem a dispensa – que é a maioria dos casos.

Entre os argumentos utilizados para ?fugir? do compromisso estão problemas de saúde, mudança de cidade, viagem de última hora e estudo. ?Mas tem gente que argumenta que é o dia do aniversário, que tem casamento marcado, vai mudar de cidade antes das eleições ou está com problema grave de saúde?, contou. Todos os casos são analisados individualmente.

?Teve o caso de uma senhora que foi convocada e que chegou no cartório quase chorando. Começamos a conversar e ela disse que iria matar sua filha, pois havia descoberto que ela era homossexual. Depois de uma hora de desabafos, dei alguns conselhos para a mulher, que se acalmou, e acabou sendo liberada do trabalho eleitoral?, lembra. Profissionais de saúde, militares, funcionários públicos no Executivo com cargo de confiança e quem faz parte da executiva de partidos políticos são dispensados de imediato. O mesmo acontece com mulheres grávidas, que estão amamentando ou com filhos pequenos.

Apesar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criar em 2004 o programa de mesário voluntário, o número de inscritos ainda é muito pequeno. A maioria se candidata interessado nas vantagens, como folga do trabalho por dois dias e vale-alimentação. Quem for convocado e não comparecer para ser nomeado ou dispensado, tem um prazo de 30 dias após as eleições para se justificar. Caso contrário, poderá ser multado entre R$ 17 a R$ 38 ou correr o risco de responder por crime eleitoral, cuja punição varia de pena alternativa até reclusão de um a três anos, além de não poder tirar passaporte ou assumir vaga em concurso público.

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