Temporada de verão

Litoral do Paraná vive síndrome do abandono

As férias escolares se aproximam e muita gente já começa o planejamento de passar a temporada de verão nas praias do Paraná. Nos municípios litorâneos, muitas casas já são vistas com placas de “aluga-se”.

Os comerciantes começam a reforçar seus estoques e os prestadores de serviços a se preparar para receber os turistas. No último mês de janeiro, o movimento nos balneários foi prejudicado por causa das constantes chuvas.

Para 2009, a torcida é para que hajam muitos dias de sol. Porém, também existe a preocupação de que velhos problemas venham a afetar o descanso dos veranistas.

Nos últimos anos, a falta de infra-estrutura para comportar uma grande quantidade de pessoas, a presença de valetas a céu aberto, a precariedade no recolhimento do lixo, a falta de balnebilidade, entre outras deficiências, afastaram muita gente.

Nesta época do ano, em dias de semana, as praias se encontram vazias, a maioria dos estabelecimentos comerciais está fechada e não são vistas máquinas realizando obras ou melhorias.

“As pessoas reclamam que os turistas estão trocando o litoral do Paraná pelo de Santa Catarina. Porém, em Santa Catarina, os visitantes encontram praias limpas e infra-estrutura. Aqui, não existem sequer pontos de informações turísticas, banheiros nas praias, lojas de câmbio e pessoas que falem inglês ou espanhol para melhor receber os estrangeiros”, comenta a comerciante Suzana Gutierrez, que é argentina e há dez anos tem um restaurante em Guaratuba, município que, em feriados e alta temporada, tem acesso complicado tanto por Garuva, pela SC-415, quanto por Guaratuba, via ferryboat (a travessia para veículos pequenos custa R$ 5,10).

Segundo a atendente de pousada Valdirene Carneiro, que também trabalha em Guaratuba, outro problema dos balneários paranaenses diz respeito ao calçamento. Em muitas ruas, existem buracos e valetas a céu aberto.

“Esse resto de ano está complicado. Tanto em Guaratuba quanto em Matinhos, os prefeitos (respectivamente Miguel Jamur e Francisco Carlim dos Santos) não foram reeleitos e as cidades estão paradas. Na frente de minha casa, surgiu um buraco imenso e nada foi feito durante 25 dias consecutivos”, afirma.

Outra preocupação diz respeito ao lixo, cujo recolhimento fica a cargo do governo estadual durante o verão, além da varrição e limpeza de praias. Segundo o comerciante Edson F. G., de Matinhos, a estrutura disponibilizada pelo Estado geralmente não é suficiente para que as praias permaneçam limpas durante todo o período de temporada.

“O problema é que a coleta não costuma ser contínua. Com isso, se acumulam resíduos nas lixeiras e o mau cheiro começa a incomodar, além de aparecerem moscas e baratas. As praias ficam sujas e a impressão que se tem é muito ruim.”

Guaratuba: ligações clandestinas de esgoto (esq.) e falta de estrutura nas praias (dir.) afugentam turistas.

Prefeitos atrás de soluções

Os novos prefeitos de Matinhos, Eduardo Dalmora (PDT), e de Guaratuba, Evani Cordeiro Justos (PSDB), vão assumir a administração dos municípios no próximo mês de janeiro, em plena alta temporada.

“Assumo com o bonde andando. Mas já começo trabalhando para que haja um melhor atendimento aos veranistas. Acredito que deva haver uma integração entre Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paraná para que aconteça um trabalho conjunto para atrair turistas tanto na temporada de verão quanto fora dela”, diz Dalmora.

Ele comenta ainda que, para a próxima temporada, vai conversar com a administração regional de Paranaguá para melhorar o atendimento na área de, saúde.

Além disso, vai restringir o comércio ambulante ao próprio pessoal de Guaratuba e tentar viabilizar, através da Assembléia Legislativa do Paraná, a limpeza nos canais da cidade para prevenir enchentes.

Já a prefeita eleita de Guaratuba esteve em Curitiba na última semana conversando com representantes do governo estadual para tentar resolver diversas situações.

“Por muitos anos, Guaratuba ficou abandonada e sei que vou pegar a prefeitura falida. Quero realizar uma administração transparente e fazer com que, daqui a algum tempo, só se fale bem do município”, diz. Entre seus projetos, Evani pretende regularizar áreas de posse existentes no município. De forma emergencial, vai promover uma limpeza das valetas.

PR-412

Em Pontal do Paraná existe ainda muita preocupação em relação à PR-412, único acesso aos diversos balneários localizados entre Praia de Leste e Pontal do Sul. Em dias de grande movimento, é preciso ter paciência para transitar pela rodovia, que é estreita e de pista simples.

Em alguns trechos, não existem calçadas e acostamentos. “É um problema antigo e que nunca é resolvido. A prefeitura sempre tem um monte de projetos para solucionar a situação, mas nunca faz nada”, diz o vidraceiro Ubiratan Crissanto de Miranda, que mora no Balneário de Canoas e conta já ter presenciado diversos acidentes.

Na cidade, foi reeleito o prefeito Rudisney Gimenes (PMDB). Ele admite que existem problemas relativos à rodovia, mas afirma que muita coisa já foi feita na tentativa de resolvê-los.

“Recentemente, melhoramos os acessos ao balneário de Ipanema, que passou a ter quatro entradas, e a Praia de Leste, que tem seis entradas e cujo trevo ficava congestionado. Além disso, melhoramos a sinalização, o que tornou o trânsito mais organizado.” Para o futuro, Gimenes informa que existe a possibilidade de se construir um binário na região ou uma autopista de trânsito rápido em paralelo à via.

Balneabilidade não resolvida

Outro problema que aflige todo o litoral paranaense é a balneabilidade. Na última temporada, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) divulgou uma série de pontos impróprios para banho.

“O turista chega no litoral, encontra a água suja e acaba indo embora, com medo de pegar alguma doença. No calor, ninguém quer vir para a praia e não poder tomar banho de mar”, reclama o proprietário de uma lanchonete e pizzaria em Matinhos, Volnei Rauta.

O problema é ocasionado principalmente pelas ligações irregulares de esgoto. “A falta de balneabilidade não é um problema que pode ser resolvido de um dia para o outro, mas através de um conjunto de ações capazes de fazer com que a situação melhore ao longo dos anos. Estamos sempre trabalhando para que os proprietários de imóveis façam a ligação de suas residências na rede coletora de esgoto e eliminem fossas sépticas. Este ano, como já fizemos em anos anteriores, estaremos sinalizando os pontos impróprios para banho”, explica o secretário de Estado do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues.

Nos próximos meses, a Sanepar deve intensificar os trabalhos de conscientização da população em relação ao assunto. Vai agendar novas vistorias em imóveis e notificar pessoas que não regularizarem a ligação.

Esta semana, a Associação de Hotéis, Pousadas, Restaurantes, Bares, Casas Noturnas, Prestadores de Serviços e Similares do Litoral Paranaense chegou a divulgar um comunicado alertando as pessoas que vão alugar casas nas praias a se hospedarem apenas em locais totalmente regularizados.

No litoral, a Sanepar atende Matinhos (que tem 48% dos imóveis atendidos com rede coletora de esgoto), Guaratuba (53%), Pontal do Paraná (25%), Guaraqueçaba (100%) e Morretes (46% na área urbana e 100% no centro histórico).

“Em relação ao abastecimento de água, temos um sistema dimensionado para atender a demanda até 2015. Por isso, falta de água não deve ser uma preocupação”, informa o gerente da Sanepar no litoral, Romilson Gonçalves.