Jacaré na cabeça!

Foto: Mara CornelsenEle sempre aposta no camelo, apesar de seu apelido ser ?Jacaré?. ?Jacaré das Meninas?, como ele mesmo diz, por ter quatro filhas. Não há quem não o conheça pelas bandas do baleneário Santa Terezinha, em Pontal do Paraná. Há 25 anos, Alfredo Santos Filho – hoje com 54 – abandonou a profissão de metalúrgico em Curitiba e desceu a serra de mala e cuia. Na primeira semana levou uma ?baita? queimada de sol e descascou inteiro, o que lhe valeu o apelido.

Embora tenha se casado – ou se ajuntado – três vezes, atualmente parece um ermitão. Vive sozinho em uma casa modesta, ganhando a vida como caseiro e fazendo uns trocos recolhendo apostas do jogo do bicho.

?Quando cheguei aqui, isso tudo era mato?, diz ele, escondendo o sorriso atrás de uma densa barba já querendo ficar grisalha. A barba, inclusive, o faz ficar parecido com o terrorista Bin Laden. ?Dias destes colocaram um pano branco na minha cabeça e tiraram várias fotografias. Disseram que fiquei a cara dele?, comenta, sem se arriscar a repetir a experiência: ?Vai que alguém acha que sou ele e joga um míssel em mim?, preocupa-se.

Brincadeiras à parte, ?Jacaré? é benquisto por todos e passa a maior parte do tempo sentado em frente a uma lanchonete da rua principal, anotando os números das apostas no bicho. Ele também faz sua fezinha e garante que ganha pelo menos duas vezes por mês, o que lhe reforça o orçamento, apesar de ter módicos gastos. Infelizmente, boa parte de sua renda é usada para comprar remédios que toma todos os dias -sofre de epilepsia.

Depois de três relacionamentos desfeitos, ?Jacaré? não quer mais se casar. Diz não ter medo da solidão porque tem muitos amigos e também, vez por outra, recebe a visita das filhas e dos netos, principalmente os que moram em Joinville (SC). Não gosta de telefone – nunca teve e diz que jamais vai ter um celular – porque incomoda muito. Para falar com ele é só dar uma caminhada pela rua principal de Santa Terezinha, que alguém há de dizer onde ele está. Como companhia permanente ele tem um televisor e a Tribuna, que lê todos os dias.

Outros moradores do Litoral falam com carinho sobre ?Jacaré?. E a história que mais gostam de repetir vem do tempo em que o nosso personagem tinha uma pequena birosca, ao lado de uma padaria. Todo mundo se reunia para jogar truco no botequinho e se passava boa parte da tarde e da noite na jogatina, cada um se servindo da cachaça que queria e anotando o gasto num caderninho, para mais tarde ?Jacaré? poder cobrar. Mas o complicado na história é que ?Jacaré? ganhava muito pouco com o seu negócio e tinha que economizar tudo, inclusive a água do único banheiro usado pelos freqüentadores. Então ele não permitia que o pessoal acionasse a descarga do vaso sanitário. O resultado é que usavam o banheiro durante horas e só no final da noitada, quando o último ?cliente? saía, é que a descarga era dada, para alegria da vizinhança.

Voltar ao topo