Garis da capital voltam a estudar e dão exemplo

Funcionários da limpeza pública dão exemplo de força de vontade para quem parou de estudar. Depois de percorrer 30 km coletando lixo, ou ainda, depois de andar 1,8 km varrendo ruas, encontram ânimo para enfrentar uma sala de aula. A empresa Cavo, responsável pela coleta e tratamento do lixo e limpeza pública de Curitiba começou o projeto Tempo de Estudar em 1997, oferecendo ensino de primeira a quarta série. Em agosto de 2001, começaram as turmas de quinta a oitava séries e está em estudo a implantação do ensino médio.

A orientação pedagógica é feita em parceria com o Sesi e os alunos são certificados pela Secretaria Estadual da Educação. As aulas são ministradas na sede de trabalho de cada funcionário. Dos 1.940 empregados, 348 estão estudando e mais de 150 já se formaram.

A assistente social da empresa, Carla Bonatti, conta que o horário do curso foi montado de acordo com a escala de trabalho dos alunos, que em alguns casos, varia de um dia para outro. “Em um curso normal ficaria difícil eles estudarem”, explica. Carla conta ainda que existe um plano de promoção e um dos requisitos é a escolaridade.

Sérgio de Oliveira, de 35 anos, entrou como coletor e já foi promovido a ajudante de mecânico. Ele só freqüentou uma escola quando era pequeno, mesmo assim, ficou pouco tempo. “A gente vivia se mudando”, conta. Agora já está dominando as letras e se orgulha disso. “Quando vou a um banco sei conversar. As pessoas tratam melhor”, diz. Além disso Sérgio fala que antes era uma dificuldade para ler correspondências e ainda se orientar na cidade. “Agora estou mais seguro”, completa.

Lúcio Maurício da Silva, 31, também já subiu de cargo na empresa, é lubrificador. Hoje ele está cursando de quinta a oitava série. Conta que seria mais difícil estudar se não fosse pelo sistema da empresa. “A gente vem aqui, trabalha, e depois estuda. Não precisa nem pagar ônibus”, completa. Ronair Lopes de Matos, 27, é um exemplo para os outros funcionários. Entrou na empresa como coletor, mas como já tinha o ensino médio completo passou a atendente de almoxarifado “Agora é menos cansativo”, orgulha-se.

A faixa etária dos participantes varia entre 20 e 60 anos. Lúcio conta que sempre incentiva os demais a seguir o mesmo caminho. “As empresas hoje exigem que a gente tenha pelo menos o segundo grau”, argumenta. O encarregado da área administrativa e de recursos humanos da Cavo diz que a escolaridade na empresa não é uma exigência, já que eles fazem este trabalho de alfabetização.

O curso é oferecido por módulos. As aulas são dadas duas vezes por semana. “O trabalho deles é muito pesado. Não dá para exigir mais que isso. O curso foi todo adaptado às necessidades deles”, explica a Carla.

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