Flanelinhas de Curitiba até ficam com as chaves

Com os estacionamentos públicos sempre lotados, é cada vez mais comum os guardadores de carro – ou “flanelinhas? – ficarem com a chave do carro dos motoristas, na região central de Curitiba. A relação, baseada sobretudo na confiança, não tem amparo legal. Mesmo assim, motoristas que costumam realizar esse tipo de prática afirmam que nunca tiveram qualquer problema, como furto de objetos no interior do veículo ou danos como riscos ou batidas. Apesar disso, a Polícia Militar alerta sobre os riscos que os motoristas correm.

O guardador Abdias de Sousa Martins é um dos que ficam com a chave do carro. Ele conta que tem clientes antigos, desde a época em que entrou no ramo, há doze anos. “Eles confiam mesmo. Deixam pertences no carro, sem problemas”, diz. Como guardador, Martins revela que ganha entre R$ 600 e R$ 900 por mês, mas já chegou a faturar R$ 1,6 mil. “Hoje está tudo mais difícil”, diz. Trabalhando de segunda a sexta, das 7h às 19h30, na Rua Keller (Largo da Ordem), Martins conta que já passou por situações constrangedoras, como esquecer a chave de um carro em outro. “Uma vez um cara quis me bater por isso. Mas a maioria entende.”

Para o guardador Sebastião Aparecido de Gouveia, que também atua na região do Largo da Ordem há doze anos, o motorista só entrega a chave do carro quando tiver muita confiança. “Às vezes demora um ano ou um ano e meio”, revela. Com um grande molho de chaves pendurado na cintura, o flanelinha garante que sabe exatamente qual é o carro de cada uma delas. “Já aconteceu de o motorista levar junto a chave de um outro carro, ou a chave cair no chão e eu perder, mas sempre acho depois. O importante mesmo é ficar atento e não vacilar”, ensina. Por se tratar de uma relação de confiança, Sebastião conta que não manda outra pessoa em seu lugar quando fica doente. “Os motoristas não teriam coragem de deixar a chave com um desconhecido.”

Segurança

Apesar dos possíveis riscos a que os motoristas estão expostos, muitos garantem confiar no trabalho dos guardadores. “Não deixo mais em estacionamento, porque uma vez meu carro foi riscado e não fui ressarcido”, revela Eliseu Mitsuki Ota, que atua no setor de vendas. Segundo ele, deixar a chave com o guardador é mais seguro. Mesma opinião tem o microempresário Majdi Adnan Khalil Majid. “Até deixo o carro em estacionamento, mas com o guardador é bem melhor”, aponta Majid, que confia seu carro ao flanelinha Abdias Martins há quase cinco anos. Apenas com gorjetas a flanelinhas, Majid calcula que gasta quase R$ 50,00 por mês. Já o comerciante Gilmar Bastos admite que a segurança em estacionamentos regulamentados é maior, mas reclama da lotação. “Tem que abrir mais estacionamentos no centro”, sugere. Quando não acha vaga, no entanto, não teme em deixar a chave de seu carro com o guardador. “Demorou quase seis meses para eu ter confiança nele.” O custo é outro fator que pesa: enquanto um estacionamento na região central custa entre R$ 85,00 e R$ 100,00 por mês, a gorjeta a um guardador é de R$ 25,00 a R$ 30,00/mês.

PM lembra que não há garantia

A Polícia Militar alerta que é “extremamente perigoso” deixar a chave com o guardador de carros. O chefe da comunicação social da PM, major Roberson Luiz Bondaruk, lembra que a atividade do guardador não é regulamentada. “Se o motorista entrega a chave a uma pessoa desconhecida, que não é vinculada à empresa alguma, ele não tem para onde recorrer em caso de danos”, explica. Segundo ele, o ideal é que os motoristas estacionem em locais regulamentados e que peguem o canhoto contendo a discriminação da placa do veículo, marca, modelo, horário de entrada e dados do próprio estacionamento. “Se não existe documento, a pessoa fica totalmente na confiança de alguém que ela não conhece.”

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