Graças ao trabalho voluntário do estudante de Engenharia Elétrica do Cefet-PR (Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná) Moacir Fonteque Júnior, a Santa Casa de Misericórdia mantém em funcionamento o primeiro e mais antigo relógio de fachada de Curitiba. Há seis anos, quando tinha apenas 16 anos, durante costumeira caminhada dos sábados, o estudante observou que o relógio da instituição sempre marcava a mesma hora. “Desde a infância eu me interessava por engrenagens e coisas antigas. E tanto o relógio como a arquitetura do hospital me chamou a atenção”, relata. Ele não pestanejou em entrar e oferecer seus préstimos. “O pessoal do administrativo aceitou e no outro dia já comecei o trabalho de restauração.”
Muitos técnicos haviam tentado consertar o relógio, sem sucesso. Houve orçamento de até R$ 15 mil na época. Mas a boa vontade e dedicação do rapaz em três meses resolveu o problema. Na verdade, Moacir, que estuda durante a semana, reservava os fins de semana para fazer a restauração. As peças foram remoduladas, polidas e pintadas, a graxa que estava encrostada no maquinário foi retirada e as engrenagens receberam um banho de solventes. A Santa Casa de Misericórdia de Curitiba arcou com as despesas de reposição de peças. Mas o estudante faz questão de ressaltar que preservou a originalidade da relíquia, inclusive o relógio alemão John Neher, que data de 1877, é mecânico e diariamente é necessário dar corda. “Se não der corda, ele pára de trabalhar – e não é fácil de arrumar”, completa o operador da caldeira, Lorival Pedro Gondro, que durante a semana faz este trabalho. Só que, aos sábados, Moacir faz questão de passar no local para dar corda no relógio.
E mesmo sem contar com tecnologia moderna dos digitais, o relógio alemão costuma atrasar, no máximo, um minuto por mês. Moacir disse que já pesquisou na internet e em livros para saber mais sobre a história do relógio, mas não encontrou referências. “Fico imaginando a história que tem por trás, o trabalho que deu para transportar ele da Alemanha até aqui”. Mas ele sabe também que antes da solenidade de inauguração do hospital de caridade, em 1880, o imperador dom Pedro II foi à sala do maquinário e fez, com as mãos, o primeiro movimento do pêndulo. Se o imperador colocou pela primeira vez o equipamento para funcionar, a segunda ficou por conta do estudante fascinado por eletrônica.
O próximo trabalho, também voluntário, de Moacir será o de recuperar o relógio da Igreja do Coração de Maria, de 1940. Ele tem em seu currículo também a restauração dos quatro relógios do Estação Plaza. Foi autor do projeto eletrônico da locomotiva que aparece quando o relógio da Sete de Setembro marca hora.
Festa
Amanhã, dia 9, a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba promoverá uma festa em comemoração aos 150 anos da instituição. Na ocasião, será lançado selo comemorativo, entrega do restauro da fachada e inaugurações de novos leitos e do Memorial.