Escolas rurais deixam muito a desejar

O Panorama da Educação no Campo, divulgado no mês passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC), evidencia resultados nada animadores sobre a realidade vivida pelos estudantes de escolas rurais. Dentre as principais deficiências apontadas está a precariedade na infra-estrutura, professores com formação deficitária e dificuldade de acesso, o que ocasiona grande número de desistências. Por conta disso, o campo acumula número de analfabetos bem maior que a cidade, além de alunos mal preparados.

?A localização sempre assinala desvantagem das escolas localizadas nas áreas rurais?, comenta a técnica da coordenação-geral da Educação do Campo do MEC, Gildete Emerick. O panorama chegou a tal conclusão após sistematizar dados sobre matrículas, função docente, transporte, contexto demográfico e perfil sócio-econômico da população rural.

A falta de infra-estrutura, uma das principais constatações, se justifica, por exemplo, pela ausência de serviços básicos para o bom funcionamento de um estabelecimento de ensino. ?No campo, tem parcela grande de escolas em que faltam luz, esgoto, banheiros, água?, cita Gildete.

Mas o problema começa antes mesmo de os alunos chegarem à escola. O transporte escolar é, também, precário, feito com pouca segurança e exigindo bastante sacrifício dos estudantes. ?A maioria das crianças e adolescentes vai para a escola com transportes muito cheios. Além disso, há inúmeros casos de alunos que andam horas para pegar o ônibus?, aponta o coordenador do setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, Alessandro Santos Mariano.

Além disso, a formação dos educadores deixa a desejar, principalmente pela falta de incentivo evidenciada nos baixos salários e na dificuldade de acesso às escolas. ?As escolas da roça acabam sendo espécie de estágio. Quando o professor tem progressão na carreira, tende a pedir a remoção para as escolas da cidade porque as condições de aula são difíceis. O ideal seria que fossem mais bem remunerados, porque atuam em uma realidade que demanda organização curricular mais complexa, já que há alunos com diferentes níveis de aprendizado no ambiente?, avalia a coordenadora do MEC.

Situação crítica nos assentamentos

Apesar de o Panorama da Educação no Campo apontar que a Região Sul é a que sofre em menor grau as mazelas detectadas, o coordenador do setor de Educação do MST no Paraná, Alessandro Santos Mariano, diz que, mesmo assim, há diversas precariedades. A falta de infra-estrutura – quando não é falta de escolas mesmo – é evidente nos assentamentos: dos 288 existentes no Estado, há escolas em apenas 80, a maior parte em estado ruim de conservação. ?Há assentamentos no Paraná onde há escolas velhas, em estrutura de madeira, que estão quase caindo. Além disso, o número de estabelecimentos não dá conta da demanda. Por isso, a maioria foi nucleada na cidade, e com isso as comunidades rurais acabaram sofrendo?, afirma.

Os prejuízos não são apenas pela dificuldade de locomoção, nesse caso, que faz com que muitos estudantes abandonem os estudos. Eles se dão também por causa da descaracterização do ensino e sua desvinculação da realidade rural. ?A educação do campo tem de ser comprometida com o desenvolvimento do campo. Nos assentamentos do Sul do Brasil, não é à toa que 25,1% dos habitantes são analfabetos (segundo dados da Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária). São poucas as comunidades que resistiram e não deixaram tirar a escola do campo.?

A discussão para mudar isso, diz Alessandro, já começou no Brasil, mas falta ser colocada em prática. ?Até agora, o campo nunca foi visto como campo na educação. Hoje, os governos estão discutindo isso, mas políticas de execução ainda faltam. No Paraná, já existem as diretrizes curriculares para educação do campo. São ótimas, mas ainda carecem de uma política plena de educação, como a forma de contratação de professores e a maneira como são lotadas as aulas nas escolas.?

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