Avaliação

Ensino médio: Enem aponta disparidades

Os últimos dias têm sido agitados para quem estuda ou trabalha no Colégio Alfa Teen, em Cascavel, na região oeste do Estado. A escola conseguiu a melhor nota do Paraná no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova aplicada pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar o desempenho escolar nesta fase. Os dados sobre 2008 foram divulgados no final do mês passado. Na cidade, o frenesi foi grande. “Esses dias pós-Enem estão sendo prazerosos. Os alunos estão contentes, os pais também. Na cidade só se fala disso”, explica o diretor-geral do colégio, o professor João Ademar Rodrigues.

As dez escolas no ranking das melhores notas do Estado foram: Alfa Teen, Cascavel (particular), Colégio Interativa, de Londrina (particular), Colégio Militar de Curitiba – Curitiba (federal), Marista Santa Maria – Curitiba (particular), Marista Paranaense – Curitiba (particular), Marista de Londrina – Londrina (particular), Bom Jesus sede – Curitiba (particular), Colégio PGD – Londrina (particular), Colégio Ateneu – Londrina (particular) e UTFPR – Campus Medianeira (federal).

Os motivos que levaram o Alfa Teen à liderança das escolas em todo o Paraná fazem parte de uma receita simples, segundo Rodrigues. O primeiro fator é uma boa equipe de professores que, além de preparada, está comprometida com o resultado do aluno. O segundo abrange as orientações e cobranças por parte da direção do colégio, que está sempre “em cima” de tudo o que acontece. E, por último, vem o planejamento da vida do aluno.

“São feitos planos individuais de estudo. Assistir às aulas é fundamental, mas o praticar também. Com essa orientação, o rendimento é muito melhor. O plano de estudos demora meia hora, em média, para ser feito e dá um resultado fenomenal”, comenta o diretor.

Já o Colégio Estadual Alcindo Fanaya Junior teve a pior nota do Estado.

A escola tinha a expectativa de uma nota alta, mas não a melhor posição do Paraná. “A gente trabalhou para que em 2008 a escola fosse novamente a melhor em Cascavel no Enem, além de focar nos resultados dos vestibulares”, explica Rodrigues.

A melhor escola pública do Paraná no Enem 2008 foi o Colégio Militar de Curitiba, que na realidade é federal. Ficou na terceira posição geral e a primeira na capital. Segundo o comandante do colégio, coronel Luiz Quintino Martins de Figueiredo, o ensino abrange, além da parte curricular, os valores e tradições do Exército, o que ajuda o aluno a desenvolver atributos como responsabilidade, honestidade e também camaradagem. “O aluno é visto como um todo”, esclarece.

De acordo com o coronel, o bom desempenho no Enem do ano passado vai estimular os estudantes e também criar o desafio de manter ou ainda melhorar a marca.

Diferenças

O Enem 2008 mostrou, mais uma vez, a grande diferença entre os resultados de escolas particulares e públicas. O ministro da Educação, Fernando Haddad, em reportagem publicada no site do ministério, disse que o baixo rendimento na rede pública está ligada com a insuficiência de investimentos. A média de recursos aplicados nas escolas públicas é de R$ 1,5 mil por aluno por ano. Esse valor é, em muitos casos, comparável ao de uma mensalidade de escola privada, segundo Haddad.

Nenhuma escola paranaense ficou entre as dez melhores do País conforme o ranking do Enem. As particulares praticamente dominam as primeiras posições do Estado. A escola estadual com melhor posição é a José Aragão, de Londrina, que aparece no 55.º lugar. Para a superintendente de educação da Secretaria de Estado da Educação, Alayde Digiovanni, o Paraná teve ,um bom desempenho no Enem ao manter a qualidade diante do aumento no número de atendidos na rede. Ela explica que as escolas que apresentam fragilidade são acompanhadas de perto para verificar problemas, que podem ser de gestão, estrutura, formação de professores e até no entorno.

Resultado não surpreende

Para o diretor de Desenvolvimento de Institucional do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Amir Limana, é normal as escolas particulares apresentarem melhores resultados. “Este é o mínimo do que se espera de uma educação diferenciada”, considera. Limana acredita que o Enem se tornou um raio-X da realidade brasileira.

“Será um período longo para vencer os percalços desenvolvidos ao longo do tempo, quando a educação não era o centro da sociedade. O Brasil está dando passos significantes, mas faltam ainda políticas mais agressivas”, comenta. O professor de metodologia e prática de ensino da língua portuguesa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Altair Pivovar, afirma que o Enem apenas mostra o desempenho da pessoa enquanto aluno, e não a pessoa como um todo. Para ele, um mau resultado não significa que o estudante não será um bom cidadão ou que não terá condições de se virar depois da escola.

Falta de inclusão

No meio de toda a repercussão do Enem, se destaca uma escola estadual, de ensino regular, para pessoas com deficiência auditiva. O Colégio Estadual Alcindo Fanaya Junior, de Curitiba, teve a pior nota do Estado e uma das mais baixas em todo o País. A direção da escola questiona a forma como foi feita a avaliação dos alunos surdos, que deveriam ter contato com o auxílio de gravações na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e de intérpretes. Mas, acima de tudo, o desempenho do colégio trouxe à tona a necessidade da inclusão.

“Para nós, a participação do Enem significa estar incluído na sociedade. Por muito tempo, estes alunos ficavam limitados ao ensino especial. Hoje ainda a inclusão é uma dificuldade”, afirma a diretora da escola, Nerci Maria Maggioni Martins. O Colégio Estadual Alcindo Fanaya Junior atende 250 alunos, sendo 60 deles no Ensino Médio. Todos possuem deficiência auditiva. Muitos ainda têm alguma outra deficiência associada.

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