Empresa inteligente faz prevenção de saúde

Ainda há muito a ser feito para que os trabalhadores tenham o que comemorar no Dia Nacional da Saúde, amanhã, dia 5 de agosto. Apesar dos avanços e das determinações previstas em legislação, médicos do trabalho e ergonomistas entendem que as empresas, por desconhecerem a relação custo/benefício de se investir em prevenção, só se preocupam com a saúde do trabalhador depois de inúmeras queixas.

“As empresas brasileiras que estão melhores equipadas e que seguem as orientações preventivas de saúde e segurança são aquelas que pagaram alto pelos índices de acidentes trabalhistas, pela falta de pessoas e pelo custo do afastamento dos empregados”, analisa a fisioterapeuta e ergonomista Lucy Mara Silva Baú.

Segundo Lucy Mara, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), dentro do mercado formalizado, ou seja, apenas 43% das empresas, entre 34% a 36% estão relativamente estáveis dentro de segurança e saúde. Ainda, as empresas que pagam impostos e estão legalizadas, gastam por ano cerca de R$ 20 bilhões com afastamento de funcionários, despesas administrativas, reposição de pessoal, tratamentos e demais custos. “É preciso conscientização deste prejuízo. As empresas que começaram a investir em prevenção já notaram que adotar ações preventivas é mais barato”, ressalta a ergonomista. Ela complementa dizendo que uma estatística americana mostra que a prevenção custa no máximo 5% do valor gasto pela empresa com reposição de pessoal, tratamento de doenças por esforços repetitivos (LER) e indenizações trabalhistas.

As ações preventivas que podem ser adotadas pelas empresas envolvem segurança do trabalho, orientação de engenheiro ou técnico de segurança e de um ergonomista que ensina a empresa a enxergar os riscos eminentes no ambiente de trabalho. Os empresários, segundo ela, devem ter conhecimento dos limites físicos de cargas e as posturas que são mais adequadas ao ser humano. Através de cursos de ergonomia, as empresas aprendem como autogerir e são capacitadas a empregar ferramentas eficazes na identificação dos riscos do trabalhador.

De acordo com Lucy, as empresas de maior risco, pela seqüência são: construção civil, rede elétrica (utilizando muita mão-de-obra terceirizada) e o setor bancário, que melhorou nos últimos dois anos, mas somente depois de um histórico marcado pelo alto índice de lesões por esforços repetitivos (LER). Mas para a ergonomista não adianta apenas adquirir equipamentos se não investir num programa completo, que envolve principalmente o treinamento dos funcionários em utilizar estes equipamentos. O pacote de ações abrange, inclusive, exercícios laborais compensatórios que podem ser praticados no trabalho (pausas, forma de sentar) e também em casa (qualidade do sono). As empresas consideradas pró-ativas, aquelas que de fato assumem este compromisso, são geralmente as médias e grandes. As pequenas, por desconhecimento e medo do custo, não costumam adotar as soluções preventivas.

Medicina do trabalho

Para o médico do trabalho e ergonomista Paulo Zétola, a medicina do trabalho, que é responsável pela saúde dos trabalhadores, teve um grande avanço com uma norma regulamentadora de dezembro de 1994, que alterou a NR7 e passou a exigir a existência do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). A norma, segundo ele, é bem reconhecida pelas empresas, o que não quer dizer que de fato é seguida.

Pela norma, o médico do trabalho tem maior responsabilidade, acompanhando a linha de produção e verificando o risco que o trabalhador está exposto. “Aumentou a preocupação do empregador em relação ao empregado”, observa. Outro avanço que ele citou é a ISO 18000 sobre a gestão da saúde do trabalhador. Mas, segundo o diretor de saúde do Sindicato dos Metalúrgicos, Núncio Mannala, apenas seis empresas na América Latina aplicam a ISO 18000, entre elas a Faurecia, de Quatro Barras.

“Estamos avançando: há as convenções coletivas da OIT (Organização Internacional do Trabalho), mas que não se tornam leis com a mesma rapidez”, diz o médico Paulo Zétola. Segundo ele, o Ministério do Trabalho tem portarias exigindo avaliação ergonômica dos funcionários das empresas. O problema é a falta de pessoal para fiscalizar se na prática as determinações estão sendo cumpridas.

O mais importante, para Paulo Zétola, é o trabalhador exigir seus direitos, que a lei seja respeitada e que ele expresse seus problemas, como estresse, carga elevada de trabalho. Além disso, o trabalhador precisa saber que não há ônus para ele, todos os exames, admissionais, periódicos e demissionais devem ser custeado pelas empresas. Conforme a lei, quando o trabalhador está exposto a riscos, os exames devem ser anuais. Caso contrário, depende da faixa etária: entre 18 e 45 anos, o exame pode ser bienal; para menores de 18 e acima de 45 anos, tem que ser anual.

Zétola acredita em melhoras

Apesar de o médico do trabalho Paulo Zétola considerar que o setor de metalurgia avançou em termos de saúde do trabalhador, o diretor de saúde do Sindicato dos Metalúrgicos, Núncio Mannala, acredita que os encaminhamentos estão mais eficazes. “As discussões aumentaram, o funcionário está mais orientado, mas ainda há muita politicagem e pouca preocupação com o ser humano”, opina.

O sindicalista cita como exemplo de conquista o acordo bipartite de saúde e segurança estabelecido, há cerca de 2 anos, entre o Sindicato e a Renault. O acordo prevê acompanhamento dos trabalhadores e processo produtivo. “É analisado o tratamento ergonômico e pessoal. Muitas trabalhadores ficam ansiosos por conta da pressão, dos baixo salários. Tudo ajuda na insatisfação do ser humano”, salienta.

Ainda assim, eles diz que há muitos acidentes de trabalho. Enquanto nas empresas grandes ainda são registrados problemas de perda auditiva e LER, nas pequenas e informais, há casos de mutilação de dedos e mãos. “Existe uma conivência da sociedade por conta do desemprego, isso aumenta a informalidade e compromete a saúde do trabalhador.”

Segundo Núncio, mesmo dentro do sistema capitalista, as empresas multinacionais, devido a suas origens, geralmente são as que têm mais ética. Mas ele também cita casos de empresas que não reconhecem suas responsabilidades frente à saúde do trabalhador, como a Volkswagem, de origem alemã. (JM)

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