ECA é discutido em seminário na capital

Crianças e adolescentes sofrem diversos tipos de violência. Além da física, que talvez seja a mais evidente, o desrespeito quanto aos seus direitos constitui uma verdadeira agressão. Apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ter completado 15 anos, as leis que protegem os jovens não são cumpridas em sua totalidade ou sofrem com a má interpretação de muitos. Vivendo em um ciclo vicioso, com falta de valores e muita discriminação, o adolescente passa a ser visto como causador da violência do País, enquanto é a principal vítima da sociedade em que vive.

Esses foram alguns temas discutidos ontem, durante o 2.º Seminário de Enfrentamento das Violências contra Crianças e Adolescentes: Limites e Possibilidades, realizado em Curitiba. As reflexões deram origem a uma carta de intenções, como forma de colaboração para as políticas públicas, a ser entregue aos governos municipal e estadual.

A juventude proveniente de camadas populares, e que possui contato direto com a violência, pode ficar perdida e sem saber como agir. A falta de esperança de viver outra realidade leva muitos a inverter alguns valores pessoais. A professora doutora Araci Asinelli da Luz, do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma das organizadoras do evento, afirma que os jovens se espelham em modelos sociais e familiares. Nem sempre os valores são aqueles que as crianças e adolescentes devem seguir. ?As mães são sozinhas ou possuem múltiplos parceiros. O adolescente convive com irmãos que são de outros relacionamentos de seus pais. Vê de perto a violência. Ele acaba incorporando esse modelo e responde à sociedade por meio da agressividade, do uso e envolvimento de álcool e outras drogas?, explica.

As escolas também não sabem como lidar com a situação, na opinião da professora. ?Isso gera discriminação, agressividade e exclusão, o que acarreta um problema social muito maior. A escola não responde às expectativas dos adolescentes, que voltam para as ruas acreditando que não têm outro espaço para desenvolver a sua personalidade?, avalia Araci.

O seminário contou com a participação de profissionais de outras áreas, como saúde, segurança pública, serviço social, conselhos tutelares, Ministério Público e organizações não governamentais. As discussões sobre o tema resultaram em uma carta de sugestões para as políticas públicas nesse sentido, que serão entregues em breve para a reitoria da UFPR, instituições, Prefeitura de Curitiba e governo do Estado.

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