A chuva de granizo que caiu, no início da manhã de ontem, em Guaratuba, não durou nem dez minutos, mas foi suficiente para atingir mais de mil casas. Quem desceu a serra para passar o final de semana no litoral foi surpreendido, mas o prejuízo maior foi mesmo dos moradores. Telhas de barro e telhados de eternit não agüentaram o peso das pedras que, segundo o Corpo de Bombeiros, chegavam a medir 20 milímetros de diâmetro.
Helena Chaikoviski, 65 anos, estava sozinha quando a chuva começou. ?Vim para a Festa do Divino, meu filho viria hoje. Foi um susto. Perdemos tudo: colchões, camas, tudo. Você viu o telhado como ficou? Em cinco minutos, não deu tempo de socorrer nada?, conta, apontando o telhado, que mais parecia uma peneira – com as marcas das pedras.
Um outro casal, com quatro filhos, que também se dirigiu a Guaratuba para passar o final de semana, guardou as pedras. ?Chegamos só para pegar o temporal. Foi rápido, mas fez um barulho. Eram 6h30. Quando vimos, corremos todos para debaixo da mesa. Guardamos as pedras para mostrar que não foi brincadeira?, contam Evelyn de Mello Barbosa e o marido Vardecir, que também tiveram os móveis encharcados.
Prejuízo maior teve o casal Edmundo Alves da Cunha, 57 anos, e Isabel, 53. ?É colchão, coberta, sofá, estragou tudo. Nem sei mais o que perdi aqui?, lamenta Isabel, aos prantos. ?Tentei proteger a televisão mas, quando a gente percebeu, só deu tempo de guardar os documentos e fosse o que Deus quisesse?, completa o marido.
A situação do morador Pedro Alves de Bareu não era menos lamentável. ?Só deu tempo de levantar e socorrer minha mulher, que não pode andar. Ela está agora deitada no sofá que menos molhou em casa, com cobertas secas que os vizinhos trouxeram. Está tudo encharcado, telhado e vidros quebrados, não tem nem mais roupa de cama para dormir. Com esse prejuízo, a gente não sabe mais o que fazer da vida. Com 50 anos, nunca tinha visto uma chuva de pedra dessas. Agora, só a ajuda dos que podem?, diz Pedro.
No Corpo de Bombeiros a movimentação era grande. Como todas as telhas e lonas da cidade haviam acabado, eles cortavam e separavam as lonas e outras doações que vinham das cidades mais próximas. ?A chuva, por volta das 6h, foi rápida, mas violenta. Logo após, o telefone não parou de tocar. Até à noite, se a chuva continuar, esperamos desabrigados, mas os três ginásios estão preparados para recebê-los. A gente calcula que a chuva tenha atingido mais de mil casas. A demanda está grande, mas as lonas e as outras doações, de cobertores, telhas e alimentos, serão distribuídas de casa em casa pelos caminhões dos bombeiros e da Prefeitura?, explica o tenente Andrey Falkiner.
De acordo com o secretário de Saúde do município, Ermínio de Paula, que coordenava o atendimento às vítimas, os bairros mais atingidos foram: Piçarras, Vila Eliana, Vila Esperança, Coroado e Mirim.
Muitos estragos em Mandirituba
Cintia Végas
Por volta das 5h, a chuva forte também atingiu a região de Quatro Pinheiros, em Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba. A tempestade, com vento e granizo, causou estragos na sede da Fundação Educacional Profeta Elias, mais conhecida como Chácara dos Meninos de Quatro Pinheiros. Segundo o coordenador da fundação, Fernando Francisco de Gois, no momento do temporal, cerca de setenta crianças dormiam em cinco casas e tiveram que ser transferidas às pressas para um barracão. ?Duas casas foram totalmente destelhadas. Também houve danos no barracão comunitário, na granja, na oficina mecânica e na casa dos voluntários. Muitos computadores foram molhados?, contou Fernando.
Mais frio e geada esta semana
Rhodrigo Deda e Cintia Végas
A frente fria que está sobre o Paraná causou ontem chuvas fortes e com granizo desde o litoral até a Região Metropolitana de Curitiba. Segundo o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), a atmosfera bastante instável, aliada às condições de temperatura e umidade foram aos responsáveis pela queda de granizo e pelas rajadas de ventos. O Simepar informa também que a chuva atingiu, com maior ou menor intensidade, todo o Estado na manhã de ontem.
A queda de granizo foi registrada em várias regiões, como em Colombo, na Grande Curitiba, Arapoti e em algumas áreas da capital (Jardim das Américas e Seminário). A chuva que atingiu Guaratuba foi provocada por uma frente fria que passou pelo sul de Curitiba na madrugada de ontem. Quando chegou ao litoral, encontrou uma área mais quente e úmida, desencadeando a tempestade. A previsão para hoje é que o tempo permaneça fechado e com chuvas, mas não tão fortes quanto as de ontem. Na retaguarda da frente fria, relata o Simepar, vai chegando uma massa de ar polar, que deve fazer o tempo esfriar esta semana, com previsão de geada de segunda para terça-feira e de temperatura de 4 graus.