Descuidos que podem acabar em tragédia

As crianças são alvos de riscos às vezes imperceptíveis por parte dos adultos. O balde com um pouco de água, o xampu que fica no chão do banheiro, o detergente dentro do armário embaixo da pia são exemplos de fatos corriqueiros que podem acabar em tragédia. Os ambientes domésticos representam riscos imensos à saúde das crianças e adolescentes. Alguns acidentes podem acabar em morte.

Foi o que aconteceu na semana passada em Paiçandu, região norte do Estado. Uma criança de um ano e três meses se afogou dentro de um balde ao tentar pegar um pedaço de pão. A mãe vigiava o menino, mas o acidente aconteceu no momento em que ela foi pegar o outro filho, na frente da casa. Nesse meio-tempo, a criança caiu com a cabeça dentro do balde e não conseguiu sair. O balde estava sendo usado pela mãe durante a limpeza da casa.

Casos como este assustam, mas não são raros. Pelo contrário. O Corpo de Bombeiros atendeu 1.155 casos de acidentes domésticos de 1.º de janeiro até ontem. Dados obtidos pela organização não-governamental (ONG) Criança Segura apontam que 6 mil crianças morrem todos os anos em acidentes domésticos e de trânsito, que são responsáveis por 140 mil admissões hospitalares na rede pública no mesmo período. ?Os acidentes são a principal causa de morte em crianças entre 1 e 14 anos. 90% dos acidentes poderiam ser evitados?, lembra Ingrid Stammer, assistente administrativa da Criança Segura.

De acordo com ela, os riscos para a criança dependem da faixa etária. O período entre zero e quatro anos é uma fase em que a criança possui uma estrutura ainda frágil e que a cabeça exerce um peso grande sobre o corpo. Além disso, é uma etapa oral. Qualquer objeto ou produto pode parar na boca de uma criança. ?Nessa fase, a criança não reconhece o perigo e tende a imitar o comportamento dos adultos?, diz Ingrid. Dos 5 aos 14 anos, a criança gosta de desafiar e ?se aventurar?. Nessa fase, também é comum encontrar meninos e meninas cuidando da casa e realizando afazeres domésticos.

Em casa, podem acontecer queimaduras, afogamentos, intoxicações choques e quedas. ?É preciso muito cuidado e ficar de olho sempre nas crianças. Não pode dar chance para o azar e não dá para dizer que foi negligência. São fatos que podem ser evitados. Ficam seqüelas muito graves e existe um trauma psicológico muito grande em toda a família?, alerta o sargento Eliton da Silva Souza, relações-públicas do Corpo de Bombeiros.

Orientações

Várias medidas podem ser tomadas dentro de casa para evitar os acidentes, segundo a ONG Criança Segura. Na cozinha, é melhor colocar as panelas nas bocas de trás do fogão e os cabos das mesmas devem estar para o lado de dentro. Os adultos podem colocar uma espécie de ?portãozinho? na entrada da cozinha para impedir a passagem da criança para o cômodo. O mesmo pode ser feito na porta da área de serviço. Material de limpeza, medicamentos e os produtos de higiene pessoal devem ficar em locais onde a criança não alcança. As cores, os cheiros e o formato das embalagens  chamam a atenção das crianças. Os baldes precisam ficar em locais inacessíveis, de boca para baixo.

No banheiro, os adultos devem ter muito cuidado com as banheirinhas de criança, as banheiras e os vasos sanitários. Os afogamentos podem acontecer nestes locais. ?Bastam 2,5 centímetros de água para uma criança se afogar?, argumenta Ingrid. As portas dos banheiros devem permanecer fechadas e as tampas dos vasos sanitários necessitam estar abaixadas. Para evitar as quedas, os pais devem colocar grades nas janelas e sacadas, além do ?portãozinho?, no topo e nos pés das escadas. ?É preciso sempre explicar o porquê daquelas medidas, dependendo do nível de compreensão da criança. A explicação é necessária porque a criança pode fazer alguma coisa quando estiver em outro ambiente?, afirma Ingrid. 

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