Crescem as agressões contra idosos

A violência contra idosos está se tornando comum em muitos lares brasileiros. Dados de entidades que atendem pessoas da terceira idade, entre elas delegacias especializadas do Rio e São Paulo, indicam que pelo menos 15 mil brasileiros e brasileiras com mais de 60 anos foram espancados, torturados, induzidos ao suicídio ou abusados sexualmente no ano passado.

O mais grave é que, em 90% dos casos, o agressor é um parente. No Paraná, como não há delegacia especializada no atendimento a idosos, não existem dados que mostrem a extensão do problema. Também o Ministério Público não conta com o número de casos denunciados. No Dia do Idoso, comemorado hoje, fica evidente a falta de amparo à terceira idade.

“Nossa luta é para implantar um Conselho Municipal do Idoso, que possa atender as denúncias”, apela a irmã Alaíde da Silva, coordenadora da Pastoral da Terceira Idade. “Assim como a Pastoral do Menor tem o Conselho Tutelar, a da Terceira Idade também deveria contar com Conselho Municipal, com advogados e assistentes sociais.”

Segundo a freira, a vítima acaba recorrendo à assistência social ou mesmo a vizinhos. Ela conta que os depoimentos são assustadores. “Eles falam que são presos, confinados, quando ficam muito agressivos ? tudo isso principalmente porque os familiares querem a aposentadoria do idoso”, relata. Apesar de muitos casos chegarem até a Pastoral da Terceira Idade, a freira acredita que vários outros não são denunciados, por medo de represálias.

Para o presidente da Federação Paranaense Protetora dos Aposentados, Enéas Dias, a terceira idade está “meio abandonada e recebendo mau atendimento nas repartições públicas”. Quanto à violência dentro de casa, Dias conta que a federação recebe poucas denúncias. “Muitos não fazem com medo de serem prejudicados, têm medo de reação maior”, confirma.

Disque-idoso

No Conselho Estadual de Defesa do Idoso, um dos poucos órgãos públicos voltados à terceira idade, a informação é que o Disque-Idoso ? por meio do qual a vítima poderia fazer denúncia ? está desativado desde dezembro. “Até abril, o número deve ser reativado”, adiantou a presidente do conselho, Aldaci do Carmo Capaverde. A idéia, segundo ela, é realizar pesquisa para saber o perfil do idoso no Paraná e definir as políticas que estão faltando.

O Paraná conta com 809 mil idosos, segundo o Censo 2000 do IBGE. Em todo o Brasil, são quase 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, ou seja, 8,6% da população.

Violência moral atinge maior parte dos idosos, diz médico

Lyrian Saiki

Dono da Casa de Repouso Curitiba há quinze anos, o gerontólogo Vicente de Paula Muniz conta que não lembra ter recebido pacientes vítimas de violência física. Em compensação, 100% dos idosos chegam, segundo ele, debilitados emocionalmente e patologicamente. “O idoso vai perdendo poder de barganha e ficando deprimido, doente, psicologicamente arrasado, com todos os problemas possíveis”, revela. “São pessoas frágeis, inseguras, vítimas da violência moral.”

Para a psicóloga Márcia Naeser, especialista na terceira idade, a família do idoso é a primeira que deve ser tratada. “O fundamental é a família. Quando ela está desestruturada e age com violência, a idoso também se torna agressivo”, diz.

A aposentada Mina Dora, de 78 anos, é uma entre as quase quarenta pessoas que vivem na Casa de Repouso. Natural da Lapa, ela conta que foi levada à clínica pelos filhos. “Eles viajavam muito, e eu ficava sozinha em casa”, conta. Apesar disso, dona Mina revela que preferiria viver na Lapa. “É melhor morar em casa: a gente faz o que quer, quando quer”, avalia.

No outro extremo, dona Lurdes, 82, diz que não trocaria a clínica por uma casa própria. Sem filhos, ela conta que seus parentes a visitam sempre. “Quebrei o fêmur e vim parar aqui”, lembra. “Acostumei-me com o lugar e vou viver aqui o resto dos meus dias.”

3.ª idade é tema de campanha

Lyrian Saiki

O idoso é o tema da 36.ª Campanha da Fraternidade que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança na próxima quarta-feira, dia de Cinzas. A fraternidade e o idoso ? vida, dignidade e esperança é o lema encampado pela Igreja Católica, que deverá ser debatido durante toda a Quaresma. “O que a Igreja percebe é que o Brasil não é mais de jovens, como se dizia. A população está crescendo e envelhecendo”, aponta a irmã Egnalda Rocha, do Centro Pastoral.

Segundo ela, a comunidade precisa conhecer seus idosos, “saber quais vivem bem, quais estão sem amor, sem afeto”. “Eles deveriam estar descansando, mas em vez disso, muitos estão jogados nos asilos, abandonados, vivendo de forma desumana”, denuncia. “A Igreja pede que as pessoas visitem seus velhinhos, assumam com carinho e afeto seus idosos.”

De acordo com a freira, o tema da Campanha da Fraternidade é fruto de sugestão de paróquias do país inteiro ? cerca de 7 mil.

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