Cores e sabores diferentes para a mesma celebração

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Presépio polonês foi montado
no Bosque do Papa.

Nesta época do ano, o espírito natalino toma conta dos diferentes povos. Em cada cultura, costumes e tradições específicas são mantidas e passadas de geração para geração. Embora o sentimento de confraternização geralmente seja o mesmo, as festas natalinas das famílias ucranianas, italianas, gregas, polonesas, entre outras, se tornam diferentes devido à grande variedade de pratos típicos, lendas e canções.

A Itália é dividida em diversas regiões e cada uma delas tem costumes natalinos diversos e específicos. No Brasil, muitas das tradições seguidas pela população são herdadas dos povos italianos. Um exemplo é o costume de se comer panetones nos finais de ano. "Acredita-se que o panetone foi criado por um padeiro chamado Tone em 900 d.C.", informa a coordenadora geral do Centro de Cultura Italiana do Paraná e Santa Catarina, Conceição Barindelli. "Ele fez um pão com frutas secas que ficou conhecido como Pane de Tone (Pão do Tone) e posteriormente panetone".

Tone teria vivido em Milão, onde hoje se encontra uma das maiores fábricas de panetones da Itália. O produto chegou ao Brasil, trazido pelos próprios imigrantes italianos, após a Segunda Guerra Mundial. Outros costumes que eles trouxeram foram o de consumir castanhas no Natal e o de freqüentar a Missa do Galo, realizada à meia-noite do dia 24 de dezembro.

No dia 25, as crianças italianas recebem presentes simbólicos. A grande distribuição acontece mesmo em 6 de janeiro, seguindo a tradição da bruxa boa Befana, que neste dia acompanhou os reis magos na entrega de presentes ao menino Jesus. "No dia 25 de dezembro, alguns sábios foram visitar o menino Jesus e chamaram a bruxa para ir com eles. Ela não foi porque estava ocupada limpando sua casa. Então, no dia 6 de janeiro, acompanhou os reis magos, levando presentes ao recém-nascido", conta Conceição.

Também no dia 6 de janeiro, alguns italianos costumam usar máscaras e sair a cavalo para entregar presentes às crianças.

Poloneses

Uma tradição bastante antiga – no Brasil ainda seguida em algumas pequenas cidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – alegra o Natal dos poloneses e seus descendentes. Algumas semanas antes do dia 25 de dezembro, corais formados por pessoas vestidas com roupas natalinas começam a percorrer os bairros e, em frente às casas das famílias polonesas, param para entoar as chamadas "colendas" ou "pastoralkis", que são canções de Natal. As atividades dos corais prosseguem até o Dia de Reis (6 de janeiro).

Hoje os poloneses põem uma toalha branca em cima de suas mesas. Embaixo da toalha, colocam um feixe de feno. "A mesa representa a manjedoura de Jesus", explica a coordenadora do Bosque do Papa, em Curitiba, pela Missão Católica Polonesa do Brasil, Danuta Lisicki de Abreu. O centro da mesa é enfeitado com luzes e a figura do menino Jesus. "Além dos talheres dos integrantes da família, é tradição sempre colocar um talher a mais, para o caso de algum visitante, mesmo que seja um andarilho, aparecer".

Geralmente, os poloneses colocam à mesa doze pratos, representando os doze apóstolos. Todos eles são à base de peixe e elementos naturais. Um dos mais tradicionais é o "makowiel" ou "makowa", feito à base de pão embebido em leite, com iguarias como passas, nozes, avelãs, amêndoas e papoulas. Ainda hoje, "quando apontar a primeira estrela no céu, os familiares trocam entre si hóstias bentas, simbolizando a comunhão da família".

No dia 25, também existe o costume de se fazer um almoço festivo. Parte das sobras dos alimentos preparados é doada aos animais domésticos, para que eles também participem da comunhão com a família.

Crianças tocam triângulos

Na noite de hoje, as crianças gregas costumam sair às ruas tocando triângulos e anunciando a chegada de Jesus através de músicas natalinas. Elas vão até as casas das pessoas, contam que Jesus nasceu e recebem presentes. Depois, reunidas com seus familiares, vão à missa. Na volta, tomam uma sopa bem quente de limão e ovos, chamada avgolemono.

De acordo com a integrante do grupo folclórico grego Neoléa do Paraná, Sula Atanazia Frantzezos Kotzias, a mesa dos gregos também é bastante farta. Nela, nunca falta o galupula (peru), tiropitas (folhados de queijo) e um arroz feito com nozes, castanha e miúdos de peru. De sobremesa, é servido melomakarona (doce à base de mel e nozes) e kurabiê (um amanteigado com amêndoas e açucarado, lembrando a neve). (CV)

Entre japoneses, festa não é tradição

Entre os japoneses, o Natal não é considerado uma festa tradicional, pois no Japão poucas pessoas seguem o cristianismo. Em compensação, o Ano Novo é tido como uma das datas mais importantes do ano. No Brasil, os descendentes de japoneses mantém alguns costumes, como o de enviar cartões de Ano Novo, chamados negadyo, e reunir a família em festas bastante animadas.

"No Japão, na virada do ano, as pessoas fazem festas semelhantes ao Carnaval, com serpentina, confete e língua de sogra. É como se todos os japoneses estivessem fazendo aniversário", relata o diretor de cultura Nipo Brasileira de Curitiba, Claudio Seto.

Ao amanhecer do primeiro dia do ano, muitos japoneses costumam se voltar para o leste e fazer reverência ao primeiro sol. Em alguns locais, toques de tambor acompanham o ritual. (CV)

Ucranianos têm duas datas

O Natal dos ucranianos pode ser comemorado tanto no dia 25 de dezembro quanto no dia 7 de janeiro, seguindo o calendário juliano. Em Curitiba, na família do aposentado Jeroslau Volochtchuk, que integra o grupo folclórico ucraniano Barvinok, as comemorações são tradicionalmente realizadas em janeiro. "O ponto alto de nossa festa é a ceia. Nela, embaixo da toalha de mesa é colocado feno, representando a manjedoura de Jesus", diz.

Antes do início da refeição, o dono da casa onde as festividades estão sendo realizadas entra na sala de jantar carregando um feixe de trigo com uma colher dentro. O feixe representa fartura e a colher simboliza os familiares já falecidos. O arranjo é colocado em um local de destaque da residência, geralmente embaixo de um quadro de santo.

Como no Natal dos poloneses, são servidos doze pratos, também simbolizando os apóstolos. Nenhum é feito à base de carne e o primeiro a ser servido é o "kutia", feito com sementes de trigo, mel, sementes de papoula e outras iguarias. "Todos os membros da família têm que comer este prato, mesmo que seja um pedacinho pequeno". Também é tradicional a "borcht", que é uma sopa de beterraba, e o "kapucniak", que é um prato feito com repolho fresco e azedo, acrescido de ervilha. A sobremesa é uma compota de frutas chamada "jhvar". (CV)

Brincadeira de São Nicolau

As festividades dos povos germânicos (alemães, austríacos e suíços) tiveram início no dia 6 de dezembro, considerado Dia de São Nicolau. Nesta data, é tradição os adultos trancarem as crianças dentro de casa e, do lado externo, o patriarca da família bater nas portas e janelas dizendo que é São Nicolau e que veio, a mando de Papai Noel, visitar aquela residência para ver se as crianças que ali vivem são boazinhas e merecem ganhar presente de Natal. No final da brincadeira, o intérprete de São Nicolau joga doces dentro da casa, fazendo a alegria dos pequenos.

No final de novembro ou início de dezembro, os germânicos têm o costume de preparar uma coroa – semelhante a uma guirlanda – e enfeitá-la com pinho e quatro velas. Uma vela é acendida a cada domingo que antecede o Natal. "Em minha casa, assim como na casa de outras famílias germânicas, o pinheirinho (chamado tannenbaum) só é montado no dia 24 de dezembro. Antigamente, ele era enfeitado com maçãs, tidas como símbolo da vida. Hoje, poucos mantém este costume, utilizando enfeites adquiridos em lojas", revela o comerciante Marcos Murara, descendente de alemães.

Na mesa de Natal dos germânicos nunca falta o stollen, um tipo de bolo que contém castanhas, passas e é coberto com açúcar ou glacê. Bolachinhas de Natal também são tradicionais. (CV)

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