Comandante do 20º BIB é afastado por tortura

O comandante do 20.º Batalhão de Infantaria Blindado, em Curitiba, Ernani Lunardi Filho, foi afastado ontem, de suas funções. Em seu lugar, assumiu interinamente o subcomandante, major Luiz Barreira.

O afastamento ocorreu depois que o programa ?Fantástico?, da Rede Globo, exibiu, no último domingo, imagens de atos desumanos praticados por sargentos veteranos do 20.º Batalhão no trote de terceiros-sargentos recém-promovidos, pertencentes à 2.ª Companhia de Fuzileiros, a chamada ?Pantera?.
 
Como ?prêmio? pela promoção, eles foram submetidos a uma sessão de tortura física e psicológica, registrada em fita de vídeo por um dos autores da barbárie. As imagens mostram que os sargentos receberam choques elétricos, chineladas nas plantas dos pés e tiveram a pele queimada com um ferro de passar – um deles entrou em pânico ao ver o ferro se aproximar.

Os novatos também tiveram as cabeças enfiadas dentro de baldes de água. Um dos torturados passou mal ao engasgar e foi largado no chuveiro com uma cueca na cabeça.

A recitação dos torturados do juramento da companhia dá a entender que o procedimento era corriqueiro. Nele, os novatos prometem ?respeitar os sargentos mais antigos, receber todas as missões passadas, pagar o churrasco sem ponderação. Não chorar para o subtenente. E, se preciso for, derramar o próprio sangue em prol da tradição do pacote da 2.ª Companhia – Pantera Brasil!?. No final do trote, eles ainda foram obrigados a dizer ?eu amo os antigões?.

Os 12 sargentos identificados na suposta sessão de trote e tortura a recém-formados no término do Curso de Formação de Sargentos Temporários, foram afastados ontem dos serviços externos. Pessoas que teriam falado com eles disseram que vão alegar que as imagens mostradas pelo programa ?Fantástico?, da Rede Globo, eram apenas um ?jogo normal?. Uma espécie de ?brincadeira? em um churrasco de confraternização pelo Dia do Soldado e pela formatura dos terceiros-sargentos.

Investigação

Apesar de a ocorrência ter acontecido no batalhão, a sindicância que vai apurar os fatos está sob a responsabilidade da 5.ª Região, que informou por meio de nota oficial, que foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para a total apuração dos fatos, ?em razão da gravidade das denúncias apresentadas?. Segundo a Comunicação Social do Comando da 5.ª Região Militar, apesar de garantir não ter conhecimento dos atos praticados, Lunardi foi afastado para assegurar maior transparência ao inquérito.

O inquérito será conduzido pelo tenente-coronel Ilton Barbosa, da 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada, e as decisões tomadas até agora são de responsabilidade do comandante da 5.ª RM, general Francisco Roberto de Albuquerque. As primeiras providências já foram informadas ao ministro da Defesa, José Alencar.

Em nota, Alencar afirma que as medidas foram tomadas ?para a apuração completa dos fatos e a identificação dos responsáveis, para a aplicação das penas previstas em lei?.
Os envolvidos no caso, identificados através da fita, começaram a ser ouvidos ontem.

Foi estabelecido o prazo de 40 dias para a conclusão da sindicância, após a qual será decidido se haverá abertura de processo. Uma vez colocados no banco dos réus, os autores do trote serão julgados por juízes-auditores civis da Justiça Militar. Se condenados, poderão ser punidos com prisão ou até mesmo exclusão.

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