Queda no movimento

Com medo do coronavírus, pacientes deixam de ir a hospitais e têm saúde agravada por outras doenças

Foto: Arquivo.

Hospitais especializados do Paraná tiveram queda de 50% no atendimento desde 20 de março, com a chegada da pandemia do novo coronavírus no estado. São pacientes cardiológicos, oncológicos, neurológicos, entre outros, que estão evitando a ida ao hospital, com medo de contrair Covid-19, mas acabam descontinuando seu tratamento de alguma doença crônica, deixando de monitorar seus quadros de saúde ou, mesmo deixando de procurar ajuda médica mesmo diante de um evento agudo (queda, acidente, derrame). Médicos de diversas especialidades relatam que os pacientes que estão chegando aos hospitais já estão em situação avançada das doenças.

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“Recebemos, em março, uma senhora de 70 anos que sofreu uma queda, fraturou a coluna, mas esperou cinco dias para vir ao hospital. Ficou em casa, sem movimentos, o que gerou uma tromboembolia pulmonar”, conta o diretor técnico do Hospital Marcelino Champagnat, Rogério de Fraga. “Temos um nível de cuidado máximo, bem como protocolos e utilização de EPIs [Equipamentos de Proteção Individual], a divisão de fluxos de paciente com Covid-19 e seus sintomas, separado de pacientes com outras doenças, além de uma ala preparada para o isolamento”, diz o médico, que assegura não haver risco de contato com pacientes com coronavírus para as pessoas que forem ao hospital por outros motivos.

Segundo o presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Paraná (Sindipar), Flaviano Feu Ventorim, a maior parte dos doentes que estão nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais privados do Paraná, atualmente, é de pessoas com doenças crônicas e/ou graves e não com a Covid-19. São pessoas que tiveram descompensação de seus quadros por não terem se tratado, principalmente com doenças cardiovasculares e pulmonares, câncer, diabetes, e doenças psiquiátricas.

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No Hospital Cardiológico Costantini, o volume de atendimentos para consultas e exames caiu pela metade durante a pandemia e a tendência, segundo o diretor do hospital, Costantino Costantini, seria o de aumento nos atendimentos, uma vez que em épocas de pandemia, fatores de risco, como estresse, sedentarismo e obesidade aumentam e é preciso ter uma atenção especial com o coração. “É importante ressaltar que se a pessoa estiver com algum sintoma de infarto, como dores no peito que podem irradiar pelo braço e região do estômago, suor excessivo, tontura, falta de ar, indisposição gástrica, braço amortecido, dores nas costas ou na mandíbula, por exemplo, é necessário que ela procure atendimento médico imediatamente”, explica o médico cardiologista.

A cardiologista intervencionista Viviana Guzzo Lemke conta que não está sendo incomum os pacientes chegarem em um hospital já com complicações do infarto, por terem demorado a procurar o atendimento médico. Foi o caso de um paciente que procurou o hospital dois dias depois de sentir dores no peito. Ele já estava infartado e com insuficiência cardíaca. “É importante que o paciente saiba que o infarto não respeita quarentena”, diz a médica.

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O oncologista Evanius Garcia Wiermann cita dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) que prevê o diagnóstico de 50 mil casos a menos da doença neste ano em relação a 2019, por causa da pandemia, o que poderá gerar um surto da doença no próximo ano, e, como agravante, com diagnóstico tardio. “O câncer não é menos importante que a Covid-19. Provavelmente teremos um surto, no próximo ano, de pessoas com câncer. As pessoas diagnosticadas com a doença não podem abandonar o tratamento. E quem tem histórico na família ou sintomas precisa fazer exames, procurar o hospital ou o seu médico”, avisa.

A neurologista Vanessa Rizelio também alerta que mortes por acidente vascular cerebral (AVC) podem aumentar durante o período de isolamento social. “Temos observado a diminuição de chegada de pacientes com suspeita de AVC aos hospitais. E quando vão, chegam além do tempo para estabelecer um tratamento que melhora o quadro e evitar sequelas [até quatro horas do início dos sintomas]”. Entre os sintomas do AVC estão a dificuldade para falar, pronúncia de palavras ou de a pessoa enrolar a língua; e falta de coordenação motora com desequilíbrio na hora de tentar caminhar, entre outros.


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