"O diabo ataca no varejo"

Colunista do Paraná Online lança livro em bar tradicional

Liguei para o nosso colunista diário Dante Mendonça ontem pela manhã. Estava animado logo cedo. Minha missão era entrevistá-lo sobre o lançamento do livro de crônicas “O diabo ataca no varejo”, que acontece a partir das 17h de hoje, no Bar Stuart. A entrevista virou uma conversa entre amigos, afinal conheço o Dante de longa data e há alguns anos sou o seu editor aqui na Tribuna.

“Vou usar aquela mesa em que você aparece na foto”, disse. O Stuart tem uma foto pendurada na parede na qual estou estampado com outros jornalistas sentado na tal mesa. Dante elogia a mesa: “É a melhor mesa da cidade, tem uma visão muito boa e com tanta história da cidade”, disse. Para ele só se compara em importância à mesa do canto do antigo Bar Palácio.

Dante é assim: toda conversa com ele é um mergulho na história recente e remota da cidade. Aos 63 anos, este é o nono livro na sua carreira de escritor. O último foi “Maria Batalhão, memórias póstumas de uma cafetina”, que eu tive o prazer de conferir, no bom sentido é claro. Mesmo com tantos títulos no currículo, Dante faz questão de manter suas origens. “Não estava nos meus planos ser um escritor. Por sinal, para o juizado da literatura local nós jornalistas nunca seremos escritores, sempre seremos jornalistas”, avalia.

Esnobismos à parte, Dante não vê problema nesta divisão. “Acima de tudo sou jornalista. Eu comecei pela cozinha do jornalismo, no past- up e depois fui exercendo todas as funções no jornal. E não há como negar isso porque é uma questão de estilo. Tudo o que a gente escreve pode enveredar até pela ficção, mas sempre tem a pegada do jornalista”, analisa.

O cartunista e aquarelista Dante Mendonça se tornou cronista a partir dos anos 2000, primeiro nas páginas de O Estado do Paraná, depois na Tribuna do Paraná e Gazeta do Povo até os dias atuais. “Tive que me reinventar profissionalmente porque senti que o mercado para o cartunista estava se estreitando”, confessa. Um dos diferenciais dos seus textos é o desabrochar tardio da veia literária. “O fato de ter começado a escrever mais tarde foi interessante porque o exercício do texto tem muita da memória e das coisas que a gente vive. E assim temos muito mais coisas para contar”, justifica. E cita como exemplo outros colegas cartunistas que também enveredaram para literatura, casos de Ziraldo, Henfil e do Alceu Chichorro. “O cartum não cabia mais em toda a experiência de vida que estas pessoas têm”.

Outra ponto forte nos textos do Dante é a leveza que ele consegue conferir a assuntos cabeludos, como os recentes escândalos políticos, e assim provocar uma reflexão diferente no leitor. “Acho que o fato de trabalhar com cartum e aquarelas tem muito a ver com esta leveza. A crônica pode ser considerada a aquarela da literatura”, filosofa.

Dante considera que “O diabo ataca no varejo”, o seu primeiro livro de crônicas, é uma prestação de contas. Ele faz uma ressalva ao lembrar da coletânea lançada há quatro anos “Curitiba, melhores defeitos e piores qualidades”, mas lembra que neste caso alguns dos textos foram feitos especialmente para este livro. “O diabo” traz crônicas que foram publicadas na Tribuna e Gazeta do Povo. E ele sinaliza que pode vir mais coisa por aí. “Acho que todo cronista deveria fazer uma seleção a cada dois anos dos melhores textos publicados. Este material é das crônicas que eu faço do dia a dia, mas poderia fazer três ou quatro livros, se fosse dividir por tema”, comenta.

Mas por que este nome? “É o diabo de cada um. Ele ataca no varejo porque no atacado é só em caso de guerra. Muitos dos nossos leitores não são leitores sistemáticos de livros, mas este livro foi feito para nossos leitores de jornal. Na verdade é uma homenagem a este leitor.” “O diabo ataca no varejo” contém 61 crônicas, divididas em 16,0 páginas e custa 35 reais.

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