Carentes têm oportunidades na capital

Em 2004, a população de moradores de rua de Curitiba era de 397 pessoas, como informa a Prefeitura. No último mês de abril, a taxa de desemprego em Curitiba e Região Metropolitana atingiu os 8,2%, o que significa, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), 121 mil desocupados à procura de emprego. Porém, felizmente, também são numerosas as tentativas de instituições, empresas e do próprio governo, de reverter a situação. Muita gente pode desconhecer, mas são vários os cursos e oportunidades gratuitas oferecidos, entre cursos para geração de renda, esporte e lazer, preparação para o mercado de trabalho e até inclusão digital.

Um bom exemplo é o que faz a comunidade do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Centro Comunitário. Cursos gratuitos de alfabetização de adultos, informática para desempregados, inglês, grupo de geração de renda (com corte e costura e artesanato) e atendimento jurídico, às quartas, e psicológico, todos os dias, atendem, em média, 600 pessoas por mês. "Devido à dificuldade, principalmente em termos de emprego, buscamos capacitar quem lá fora não tem acesso", afirma a assistente social Leila Márcia Pires Silveira. Ela diz que a procura é grande e diversificada. "Temos três perfis aqui: moradores de rua, aqueles que repetem a pobreza de geração em geração e desempregados que chegam à condição de pedintes", explica Leila, que afirmou estar, à espera de voluntários, tentando montar até um curso pré-vestibular gratuito.

A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer também não cobra nada das cerca de 150 mil pessoas que são atendidas nos 28 Centros de Esporte e Lazer espalhados pela cidade com mais de 17 atividades. "Qualquer pessoa tem o direito de participar das atividades. Não exigimos nada. Somente no caso das crianças é que buscamos confirmar se estão na escola", afirma Simone Chagas Lima, superintendente da secretaria. Ela explica que muita gente sabe dessas atividades. "Ao conhecimento chega, mas nós é que não chegamos a alguns lugares, como a região sul da cidade, por falta de equipamentos da secretaria", explica.

Diferencial

Além de também gratuito, a oferta social do Senac é um pouco diferente. "Atualmente nós oferecemos o programa em busca da empregabilidade, voltado àquelas pessoas que estão fora do mercado de trabalho", afirma Gênova Teixeira Frank Borba, técnica em Educação do Senac. A exigência é que os interessados tenham no mínimo 16 anos e até a quarta série do ensino fundamental completa. Gênova explica que o programa, que deve começar ainda este mês, é feito de 14 horas, oito de palestras, com temas como mercado de trabalho, organização de currículo, preparação para entrevista, e outras seis horas de laboratório de informática. A intenção é de disponibilizar mais de 120 vagas.

Inclusão digital

Nesse leque de tentativas, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos do Estado vem complementar com oportunidade de inclusão digital. Em Curitiba, o serviço é oferecido nos telecentros, um montado ao lado da biblioteca municipal e outro que atende especialmente os deficientes visuais (com teclados e impressoras em Braile) no Instituto de Cegos, o primeiro, no Sul do País, para atender esse público. "A gente tem insistido que a verdadeira inclusão social do século 21 passa pela inclusão digital. Quem souber mexer no computador pode buscar a própria oportunidade", afirma o secretário da pasta, Nizan Pereira.

Cultura ajuda a melhorar a qualidade de vida

Melhor qualidade de vida não é criada apenas com capacitação profissional, outros fatores podem influenciar muito nessa questão, um exemplo é a democratização do acesso à cultura. Nesse sentido, também é possível encontrar, em Curitiba, as oportunidades, principalmente abertas à população mais jovem e de periferia.

O Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha) desenvolve, desde 2003, o Projeto Arte da Paz, patrocinado pela Petrobras, do qual participam mais de 800 jovens. Em parceria com as escolas estaduais, os nove funcionários envolvidos no projeto divulgam a cultura hip-hop (a dança, a música, o grafite) e trabalha questões de cidadania. Ao final do período são promovidas campanhas, cujos temas são escolhidos pelo grupo de acordo com a demanda do bairro, e apresentações.

O projeto já percorreu oito bairros de Curitiba, além de São José dos Pinhais, Campo Magro, Colombo e Fazenda Rio Grande, áreas em que o índice de violência é alto. Uma versão do projeto está sendo levada aos meninos que cumprem medidas sócio-educativas do Estado. Como informa a assessoria do Iddeha, "o projeto foi pensado em cima da questão da violência nas escolas e bairros. O trabalho é ressaltar as potencialidades das crianças para reverter o problema".

Porém, se a intenção é, além de ter o contato com a cultura, tornar-se um artista, também não é algo impossível. A Fundação Cultural do município vem contribuindo com atividades como as desenvolvidas nas Ruas da Cidadania. A exemplo, a Regional do Boa Vista oferece aulas de música, dança, desenho, pintura, histórias em quadrinhos e até teatro. Os cursos têm uma mensalidade de cerca de R$ 20, mas se o aluno não tiver condições existe a possibilidade das bolsas. "Além dessas atividades a gente procura dar suporte a todas as programações culturais do bairro e atividades junto a associações de moradores. É uma maneira de possibilitar a cultura para toda a população", explica Ana Maria Kohler Piras, gerente da regional que, orgulhosa, fala dos resultados dessas atividades: "já temos um grupo de teatro, o coral do Boa-Vista e até uma orquestra de violino, todos se desenvolveram aqui", afirma. (NF) 

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