Auto-estima atrapalha relação

Não é só história dos livros de auto-ajuda: a auto-estima é realmente uma das qualidades mais importantes no ser humano, segundo especialistas. A baixa quantidade de amor próprio, ou até a falta dele, pode levar ademissões no trabalho (e pedidos de demissão), à deterioração de relacionamentos e até a doenças graves, como a depressão.

A estima é a avaliação do próprio valor, de como a pessoa se vê. E, segundo especialistas, quando a pessoa não acredita em si, não se estimula, não manda o recado ?eu posso? para o seu cérebro, as conseqüências não são nada boas. ?Quando você começa a mandar esse recado para o cérebro passa a errar automaticamente?, afirma o consultor e conselheiro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR), Humberto Souza.

E essa dinâmica é extremamente evidente e negativa no trabalho. O consultor fez uma pesquisa no Tribunal do Trabalho do Paraná e constatou que grande parte dos cerca de 200 julgamentos se referiam à demissões ou pedidos de demissões eram provenientes da baixa auto-estima do funcionário. Muitas vezes, segundo o especialista, os chefes têm papel fundamental nisso. ?A liderança da empresa pode destruir ou aumentar muito a auto-estima do funcionário. O chefe deve enxergar todas as pessoas de maneira apreciativa, mesmo que eles errem?, afirma.

Em algumas situações de baixa auto-estima, talvez na maioria, as pessoas não conseguem lidar com o retorno ou as críticas. Segundo o head-training do Instituto Nacional de Excelência Humana (INEXH) em Curitiba, Sérgio Garcia, a baixa auto-estima é bastante freqüente nos treinamentos que oferece. Na sua opinião, as pessoas devem aprender a lidar com este retorno, mesmo que ele seja negativo. ?Você tem que ter equilíbrio entre o seu referencial interno e externo. Digamos que alguém te disse que o que você fez ficou horrível. Se você aceitar e acreditar nisso, não terá mais confiança nos seus pensamentos e atos. Você tem que fazer o contrário. Não se retruca, se avalia. Pega o que tem de bom para você crescer e o resto joga fora?, diz o consultor.

Para Marcelo Ramalho, consultor e professor da Isae/FGV (Fundação Getúlio Vargas), uma das qualidades mais importantes para conseguir um emprego é a criatividade. E a falta de auto-estima, segundo ele, afeta primeiramente esta qualidade. ?As pessoas têm medo de errar, mas na verdade a ousadia é mais importante do que o erro, em todas as situações da vida. O fracasso não é a pessoa, é o fato. O que importa é o que ela pode tirar de bom do seu fracasso?, diz o especialista.

Família deve apoiar na dificuldade

Na psicologia, a explicação para auto-estima é a união daquilo que a pessoa gostaria de ser ou aquilo que ela acha que realmente é. Quando a discrepância entre esses dois fatores é pequena, a auto-estima é alta. E vice-versa. Outra influência na auto-estima é o que a pessoa vê que os outros estão percebendo dela. Ou seja, além do julgamento que se faz de si próprio, é preciso ter o apoio das pessoas que estão a sua volta para pelo menos tentar aumentar sua auto-estima.

A psicóloga clínica e professora do Centro Universitário Positivo (UnicenP), Joseane Knaut, diz que o apoio dos amigos e familiares é fundamental no que se refere à auto-estima. Segundo ela, não é uma tarefa fácil, ainda mais quando a pessoa não tem esse apoio. ?Primeiramente é preciso que ela perceba suas potencialidades, seus pontos fortes. Isto faz com que ela aprenda a discriminar suas qualidades e, naturalmente, passe a usá-las mais e automaticamente o meio externo vai responder?, explica.

O problema é que, muitas vezes, isso não acontece. ?Em geral, as pessoas que têm baixa auto-estima não conseguem influenciar a realidade, não têm controle do seu exterior. Mas é uma bola de neve, pois é justamente por isso que ela tem que exteriorizar o seus pontos positivos, para então as coisas acontecerem naturalmente?, orienta a psicóloga.

Cuidados com crianças e adolescentes

A auto-estima baixa nas crianças e adolescentes pode ser ainda mais grave, segundo os especialistas. Na opinião da psicóloga Joseane Knaut, não é regra, mas adolescentes que se envolvem com drogas e com comportamento sexual irresponsável normalmente têm baixa auto-estima. ?Quando a pessoa não tem auto-estima elevada acaba usando outros meios para expor isso, mesmo que sejam meios inadequados?, comenta Joseane.

Segundo a especialista, casos de auto-estima baixa são muito freqüentes no consultório. E o que é pior é que na maior parte das vezes eles estão relacionados com outras doenças ou problemas, como depressão, ansiedade, insegurança, falta de habilidade social e timidez.

Para os especialistas, a construção da auto-estima começa na infância. Segundo o head-training Sérgio Garcia, os pais (ou familiares) têm grande parcela de culpa no caso de filhos adultos que não conseguem elevar seu amor próprio. ?Os valores que passamos para as crianças nessa faixa etária vão perdurar para a vida toda, pois é o momento em que têm essa única referência. Se o seu filho for mal em uma prova da escola, por exemplo, não fique lembrando disso toda vez que ele for fazer um teste. Ressalte sempre seus pontos fortes e diga que ele pode melhorar da próxima vez?, aconselha o consultor.

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