Arquitetura ambiental pode prevenir a criminalidade

Ruas limpas e largas, bem iluminadas, com calçamento regular (daqueles apropriados para quem usa cadeira de rodas), e quadras pequenas. Casas com grades na frente e muitas janelas, que permitam ver e ser visto. Prédios com poucas marquises, portarias recuadas e muito vidro, para permitir enxergar todas as laterais, inclusive entradas de garagem e quem se aproxima. Estas são pequenas sugestões para prevenir a criminalidade através da arquitetura ambiental.

O assunto é muito novo no Brasil, porém é discutido e aplicado há mais de 40 anos em grandes cidades dos Estados Unidos. Quase todo mundo já viu filmes americanos em que aparecem casas enormes, bem projetadas e belíssimas ruas, sem que existam grades ou muros separando uma moradia da outra. Lá isso funciona como ítem de segurança, e aqui?

Para o tenente-coronel Robson Luiz Bondaruk, atual comandante do Regimento de Polícia Montada, com doutorado em Segurança Pública e dono de um currículo com incontáveis cursos de especialização no exterior, a prevenção do crime através da arquitetura ambiental é uma realidade que deve ser colocada em prática em todos os lugares. ?Segurança pública é um problema de todos, não só da polícia?, salienta ele, que na quinta-feira fez uma palestra para engenheiros e arquitetos na sede do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Paraná (Crea), reforçando a idéia de que novas edificações já devem perseguir detalhes (muitos deles simples) que inibam a ação de ladrões.

Trazer a arquitetura de segurança para o Paraná é uma das metas do oficial, que também é responsável por uma pesquisa, feita durante dois anos, em casas e estabelecimentos comerciais que tinham sido alvo de ladrões, e em penitenciárias de todo o Estado, apurando junto aos presos os locais mais atrativos para a prática do furto ou do roubo.

As respostas compiladas, comparadas aos estudos, forneceram um panorama do que precisa ser feito para diminuir a criminalidade.

Estratégias simples e funcionais

Foto: Anderson Tozato

Ausência de muros inibe a ação dos ladrões.

Na pesquisa realizada pelo tenente-coronel Bondaruk, 70% das ocorrências policiais atendidas no Paraná, atualmente, são de pequenos delitos; os 30% restantes são de crimes violentos ou crime organizado. Para combater este alto porcentual de crimes de menor poder ofensivo, a comunidade está sendo chamada a cooperar. Já o restante, de delitos mais graves, o combate fica por conta da própria polícia.

A estratégia para evitar os delitos, de acordo com o oficial, segue três etapas: a vigilância natural, o controle de acesso e o reforço territorial. À primeira vista parece difícil, mas não é. A vigilância natural nada mais é do que transmitir ao delinqüente a sensação de que está sendo observado e corre alto risco de ser preso. Isso se consegue através de ambientes limpos, bem iluminados e casas e comércios com visibilidade externa.

O segundo tópico se refere à segurança externa das casas, edifícios e empresas. Muita gente levanta muros altos, com portões fechados (às vezes com arame farpado em cima ou cerca elétrica). Isso é ruim para o proprietário e o ladrão sabe disso. Na pesquisa feita nos presídios, 71% deles responderam que preferem invadir uma casa assim; os outros 29% preferiram locais cercados com grades. A explicação é simples: depois de entrar na casa ou no comércio, o bandido fica protegido pelo mesmo muro. Quem está fora não vê o que está acontecendo e, portanto, não aciona a polícia. Já com grades é mais fácil um passante ou um vizinho perceber algo anormal e pedir socorro.

Por fim, a questão da territorialidade. É instinto natural do ser humano ter um espaço como domínio pessoal ao redor de sua casa, do prédio onde mora ou do comércio. O ideal é que este espaço esteja permanentemente limpo, arejado, iluminado, sem mato, sem entulhos e sem lixo. A aparência de local bem cuidado já começa a inibir um ato criminoso, garante Bondaruk.

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