Anvisa pretende acabar com as bulas complicadas

As reclamações dos pacientes com relação às bulas de medicamentos devem acabar em breve. Em menos de um mês, no dia 24 de março, encerra o prazo que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu para que as indústrias farmacêuticas apresentem os novos textos das bulas para aprovação do órgão. A Resolução 140 da Anvisa, publicada em junho de 2003, determina que os medicamentos contenham dois tipos de orientação, sendo uma destinada ao público e outra aos profissionais da área da saúde.

A bula para paciente deve ser escrita em linguagem clara e explicar sinteticamente sinais, sintomas e doenças em letras de tamanho maior. A bula com informações técnicas deve contar características farmacológicas, resultados de eficácia, indicações, contra-indicações, modo de usar, reações e armazenagem.

Para que todas as alterações sejam controladas, a Anvisa vai criar o “Bulário Eletrônico”, onde todas as bulas aprovadas estarão disponíveis na internet. Haverá também uma publicação anual com todas as bulas e informações adicionais sobre medicamentos. De acordo com o Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), que participou da elaboração da resolução, no ano passado, as empresas farmacêuticas estão no período de adaptação para realizar as mudanças. A entidade acredita que até o segundo semestre do ano as novas bulas já deverão estar no mercado.

O presidente do CRF-PR, Everson Augusto Krum, afirma que o pedido para que as indústrias realizassem as mudanças vem sendo feito há muitos anos. Ele, porém, disse que as empresas poderiam ter feito as modificações anteriormente. “As mudanças estão demorando, mas tudo está sendo feito para beneficiar o consumidor. Mais informação para o paciente, sem esquecer de informar também os profissionais”, explica.

Profissionais

Iglaci Seguro, farmacêutica há 10 anos, acredita que as mudanças exigidas pela Anvisa apresentam dois lados. Ela afirma que os pacientes serão beneficiados pela ampliação das letras da bula e terão todas as informações necessárias para entender o medicamento. Mas, por outro lado, Iglaci ressaltou que as pessoas que costumam se automedicar poderão ter contato com algumas informações técnicas. “Isso é minha única preocupação. De resto, concordo com todas as alterações, e acredito que ainda pode melhorar ainda mais”, afirma.

Outra farmacêutica concordou com o discurso de Iglaci. Soraia Zielinski alertou que as pessoas poderão ter acesso mais direto à informações que não conheciam, podendo torná-las prejudiciais. “É importante essa mudança, mas todo cuidado deve ser tomado. A consulta com os médicos e a explicação dos farmacêuticos são essenciais antes da compra de qualquer medicamento”, ressalta.

Pacientes

A reclamação mais comum entre as pessoas que compram os medicamentos são as pequenas letras do texto da bula e os nomes desconhecidos de substâncias.

A aposentada Ione Lopes, de 76 anos, tem dificuldade para ler a bula atual e conta que várias pessoas já reclamaram desse problema. Ela afirma que as letras são muito pequenas e que faltam explicações mais simples. “Desde quando comecei a me medicar, não consegui entender totalmente o que está escrito em uma bula. É muito complicado”, conta.

A vendedora Sônia Marques Soares, de 40 anos, também acha muito complicado os nomes das substâncias que constam na bula. “Acho que poquíssimas pessoas descobrem o que significa esse nomes complicados”, ressalta.

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