Para economistas, Banco Central erra ao tentar intervir no câmbio

Intervir no mercado cambial neste momento para brecar a queda do dólar é como "tentar conter um maremoto construindo um murinho no meio do mar". A definição é do economista Ricardo Amorim, chefe de Pesquisas de América Latina do Banco WestLB em Nova York, cuja posição é muito parecida com a de outros economistas. De acordo com Amorim, o Banco Central (BC) não tem poder suficiente para contrabalançar o enorme fluxo de recursos proveniente das exportações recordes e dos investimentos financeiros. "Não adianta tentar segurar o maremoto", observou.

"Não sei se o BC tem como objetivo conter a valorização do real com as intervenções que vem fazendo (compra de dólares e venda de swap cambial reverso) ou está apenas aumentando o nível de reservas", diz Amorim. "Se estiver tentando deter a queda do dólar, não vai conseguir." Para ele, o dólar deve chegar a R$ 2 no semestre.

Grande parte do mercado não acha necessário intervir para brecar a queda do dólar e o câmbio valorizado não trará problemas. Mas a indústria acha que o dólar baixo afetará o desempenho das exportações e é necessário adotar medidas mais eficientes para deter a alta do real.

"Exportadores vêm dizendo, há mais de dois anos, que a queda do dólar vai prejudicar a balança comercial, mas isso não aconteceu", diz Amorim. "Aliás, acho que o superávit comercial deste ano vai ser ainda maior que o do ano passado."

Segundo ele, o fato de países que competem com o Brasil, como Austrália e Nova Zelândia, também terem sofrido valorizações, evita perda na competitividade brasileira. Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, qualquer coisa que o BC fizer além do que já está fazendo será "artificial demais."

Heresia

Não é o que acha Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Sem ajuda de uma taxa de juros bem mais baixa, fica difícil evitar que o dólar caia mais", diz. Segundo ele, se os juros não forem reduzidos, o dólar vai para os R$ 2, o que vai prejudicar as exportações.

Boris Tabacof, diretor do do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), é mais radical. "Sei que para muitos isso é uma heresia, mas são necessárias medidas para controlar a entrada de capitais estrangeiros."

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