Ótica ou ética?

Neste espaço, sob o título "Os números enganam", comentamos o fato de que a propaganda oficial manipula a opinião pública utilizando-se de artimanhas com as estatísticas. Tomam o resultado de um setor da economia atual e o comparam com outro que, no passado, foi de vacas magras. Cotejados, acabam revelando altos índices de crescimento.

Seria uma questão de ótica ou de ética? Cremos que ambas as coisas. De ótica, pois depende de para onde se quer olhar. Se o desejo é mostrar bons resultados, basta pegar os números atuais e compará-los com os de períodos piores. Ambos serão verdadeiros, mas a intenção é fazer com que se imagine espetaculares sucessos que, na verdade, não ocorreram. Aí, é também uma questão de ética, pois, criando confusão e dificultando a análise correta, o governo engana o povo, fazendo-o crer em resultados satisfatórios em setores que na verdade mal se mexeram do lugar ou até pioraram.

Coincidentemente, já nos dois ou três dias posteriores ao nosso comentário, ocorreram fatos elucidadores. Divulgou-se, por exemplo, que a inflação está fechando o ano de forma bastante satisfatória, com índice de 7,6%. Esconde-se que esse índice é superior às metas pretendidas e constitui-se na segunda maior inflação da América Latina. É aquela estória do copo, em que o otimista diz que já está meio cheio e o pessimista constata que falta uma metade para enchê-lo.

Na semana passada, os meios de comunicação alardearam que a produção industrial do País está crescendo pelo quarto mês consecutivo. Analisados os números, verificou-se que o IBGE revelou que a produção industrial não cresce pelo terceiro mês seguido. Em novembro, a produção teve queda de 0,4%. Em outubro houve crescimento zero. Uma revisão nos cálculos apontou esse crescimento, ou melhor, estagnação, pois antes se calculava uma baixa de 0,4%. Em setembro, houve queda de 0,2%. Anteriormente, de março a agosto de 2004, a indústria brasileira cresceu ininterruptamente, mês a mês.

A notícia, portanto, não era boa, embora as perspectivas para o corrente ano não sejam desesperantes. Concomitantemente com este noticiário enganoso, saiu outro, no sentido contrário e também com o objetivo de manipular a opinião pública. Disse ele que a produção industrial está crescendo em todo o País, segundo o mesmo IBGE.

É verdade, mas os números positivos são comparados com os números dos mesmos meses do ano de 2003. Ano de vacas magras. Não se trata, portanto, de uma mentira, mas de uma questão de ótica explicitada com pouca ética.

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