Os sinos dobram por nós

A morte do juiz José Antônio Machado Dias pelo crime organizado na noite de sexta-feira não foi somente uma agressão contra um juiz ou sua família, à comunidade de Presidente Prudente ou ao Judiciário. O ataque foi contra a sociedade brasileira e por uma razão hedionda: o juiz fazia seu trabalho de acordo com os rigores necessários para que a sociedade tenha o mínimo de disciplina e ordem, sem as quais não há vida civilizada. O ataque foi a juiz reconhecido por não ser conivente com pressões por regalias a uma população carcerária formada em sua grande parte por sujeitos que contrariaram uma, ou diversas vezes, as regras elementares de convívio social. E que estão onde estão para cumprir pena.

A propósito do juiz José Antônio deve se lembrar as palavras de John Donne em sua célebre meditação XVII. “Nenhum homem é uma ilha completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar”, o continente fica menor porque perdeu uma parte de si. A sociedade brasileira fica mais frágil com a morte do juiz e os sinos que dobram por ele, dobram também por toda a sociedade brasileira, ferida de morte através da queda de um de seus representantes.

Há poucos dias se alertou neste espaço sobre a presença crescente e letal do crime organizado em nossa sociedade, sem paralelo com a guerrilha urbana dos anos 70. A morte do juiz paulista revela que o crime reage e somente começará a perder a guerra quando toda a sociedade o repelir. Mas para a sociedade o repelir com eficiência ela deve estar unida e solidária. A sua divisão ou a omissão de uma parte a fragiliza e compromete a eficiência de suas defesas contra estas agressões.

Claro que se sabe que o combate ao crime passa, também, pelo combate às suas causas, entre elas, a pobreza, em si também um crime e que dissemina a violência. No entanto, a pobreza em si não pode justificar o crime por uma questão de lógica e matemática. Os beneficiários do crime não são os pobres, que continuam a viver na pobreza, mas os barões mafiosos que formam uma elite subterrânea, controlam pequenos exércitos, manipulam segmentos venais do executivo, legislativo e judiciário. E em vez de prosperidade, geram o medo e a violência. E, com isso, mais pobreza.

A morte do juiz deve servir de alerta para a sociedade criar mecanismos de defesa, para bloquear estas ações ou fazer com que se tornem estrategicamente inócuas. Uma das iniciativas já sugeridas seria a de manter sigilo sobre os magistrados em relação a determinados processos criminais, como ocorreu com sucesso na Itália. O Judiciário italiano venceu a queda de braço com o crime organizado. E serve de exemplo. O Brasil não se pode dar ao luxo de mostrar a fragilidade ocorrida na Colômbia, que expôs ao crime os elementos combativos do Judiciário e com isso minou e permitiu a degeneração da própria sociedade.

Edilson Pereira

(edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado.

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