ONU estuda endurecer sanções a Irã

A entrega do esperado relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o programa nuclear iraniano deu o aval, nesta quinta-feira (22), para que os países membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) comecem a discutir a imposição de sanções mais duras a Teerã. Segundo o documento, concluído um dia depois do fim de um ultimato do CS para que os iranianos cooperassem com a ONU, o Irã acelerou suas atividades de enriquecimento de urânio em vez de paralisá-las, como a comunidade internacional exigia.

O texto, assinado pelo presidente da AIEA, Mohamed ElBaradei, diz que já foram instaladas duas cascatas (conjuntos) de 164 centrífugas na usina iraniana de Natanz e que outras duas estarão prontas em breve. Os iranianos também teriam levado para a usina 8,7 toneladas de gás hexafluoreto de urânio – o combustível usado nessas instalações. Além disso, autoridades iranianas teriam revelado à AIEA que pretendem colocar em operação até maio um total de 3.000 centrífugas – suficiente para enriquecer urânio em escala industrial – e se recusaram a cooperar com inspetores internacionais em algumas ocasiões.

A conclusão não surpreendeu, já que Teerã nunca escondeu suas ambições de enriquecer urânio, mas abriu um novo capítulo na disputa sobre o programa nuclear iraniano. "Agora teremos de estudar a adoção de mais medidas no CS, o que levará a um maior isolamento internacional dos iranianos", disse a chanceler britânica, Margaret Beckett, pouco depois do primeiro-ministro de seu país, Tony Blair, descartar a possibilidade dos EUA atacarem o Irã. "Que eu saiba, ninguém em Washington planeja uma ação militar", afirmou Blair.

O governo americano recebeu uma cópia do relatório antecipadamente. Antes de ele ser divulgado oficialmente, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, também negou que a Casa Branca buscasse o "confronto" com Teerã e disse que Washington e seus aliados usariam o CS e "outros meios disponíveis" para convencer o Irã a voltar para a mesa de negociações.

O governo iraniano, porém, manteve o tom desafiador: "Resistiremos até o final às pressões internacionais. O povo iraniano considera seu direito o acesso à tecnologia nuclear para uso pacífico", disse o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, num discurso para milhares de pessoas na cidade de Talesh, no norte do país. Em Teerã, mais de 700 iranianos fizeram protestos na frente das embaixadas britânica e francesa em apoio à posição de seu governo na questão nuclear.

O Irã afirma que seu programa nuclear tem como finalidade produzir energia elétrica, mas os EUA e boa parte da comunidade internacional acredita que Teerã estaria interessado em fabricar armas atômicas. Segundo a estimativa de alguns analistas, os iranianos conseguiriam acumular quantidades suficientes de urânio enriquecido para construir uma bomba nuclear dentro de 3 a 10 anos.

Histórico

Em 23 de dezembro, o CS aprovou uma série de sanções limitadas a Teerã, como a proibição da venda para esse país de materiais e tecnologias que poderiam ser usados na fabricação de mísseis e armas atômicas. Foi nessa ocasião que o CS deu um prazo de 60 dias (vencido ontem) para que o Irã suspendesse as suas atividades nucleares e incumbiu El Baradei de fazer o relatório que serviria de base para a avaliação dos próximos passos.

Segundo o presidente do CS, o eslovaco Peter Burian, o órgão não deve se reunir antes da próxima semana. Entre as novas sanções que podem ser adotadas estão a proibição de viagens de autoridades iranianas e restrições a empresas do país, ainda que elas não estejam diretamente relacionadas com o programa nuclear.

A discussão será feita em meio a uma escalada de tensões do Irã com os EUA. A Casa Branca acusa Teerã de armar milícias xiitas no Iraque e em janeiro resolveu ampliar sua presença militar no Golfo Pérsico, em resposta à "atitude negativa" do Irã.

Bushehr

Uma delegação iraniana deve viajar à Rússia nos próximos 10 dias para solucionar a disputa financeira que pode atrasar a entrega da usina da cidade iraniana de Bushehr – construída pelos russos. Autoridades russas acusam Teerã de não efetuar o pagamento de US$ 70 milhões previstos em contratos. Os iranianos negam a dívida e atribuem os atrasos ao fato da Rússia estar cedendo à pressão de países que querem o fim de seu programa nuclear.

Voltar ao topo