O pacto nosso de cada dia

Segundo consta, quando Jesus estava no deserto, o diabo teria lhe proposto o célebre pacto: te darei poder e riqueza sobre a Terra se me adorares. Contudo, Jesus não sucumbiu; manteve-se incorruptível. Bem sabia ele que, se bebesse desse cálice, seu projeto de vida estaria fadado ao fracasso porque, desde sempre, poder e luxo corrompem a alma humana.

No entanto, há quem faça a absurda ligação entre prosperidade financeira e Jesus Cristo, que foi a personificação da humildade. Aliás, pela Bíblia, quem prometeu recompensas materiais, em verdade, não foi Jesus, mas o próprio diabo (Evangelho segundo Mateus, cap. 4, ver. 8 e 9).

Por outro lado, é inegável que as derivações do poder e da riqueza, conforto e segurança, sempre estiveram ligadas ao nosso instinto básico de sobrevivência. Foi assim, norteados pela implacável lei do mais forte, que resistimos ao impiedoso processo de seleção natural.

Mas temos uma consciência moral e tentamos compensá-la através da espiritualidade. Apesar de buscarmos sempre conforto e segurança (reflexo da nossa natureza animal), teorizamos sobre uma espiritualidade transcendental (negação do mesmo reflexo). É o eterno conflito entre a carne e o espírito.

E como, desde que o homem é homem, a carne tem saído vencedora desse embate, resta-nos, apenas, a hipocrisia.

Djalma Filho é advogado – djalmafilho68@uol.com.br

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