O ovo ou a galinha?

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Dilema semelhante foi levantado pelo empresário José Alencar, candidato a vice-presidente da República na chapa de Lula. Em entrevista a uma rádio colombiana, Alencar disse que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva está determinado a pagar a dívida externa, caso vença as eleições, mas para isso é necessário que o País entre em um processo de crescimento. A fórmula é correta, mas se indaga qual das duas coisas vem primeiro. Se primeiro se há de crescer, para depois pagar a dívida, ou pagar primeiro (melhor dizendo, rolar a dívida), para manter o crédito necessário à retomada do desenvolvimento.

A fórmula atual, acertada com o Fundo Monetário Internacional, exige que se mantenha superávits nas contas nacionais para que sobre dinheiro para ir rolando a dívida. Acertou-se superávit de 3,7% do PIB e, agora, comprometemo-nos a 3,78%. Na opinião de Armínio Fraga, presidente do Banco Central, com essa economia seria possível esperar um melhor quadro da dívida externa em 36 meses e uma razoável retomada do desenvolvimento. Quando ele disse isso, foi quase apedrejado, embora seja certo que em menor tempo é quase impossível reduzir a dívida para um tamanho suportável e ao mesmo tempo financiar o desenvolvimento econômico.

As primeiras palavras do vice de Lula dão a impressão de que, em sua opinião, o crescimento econômico tem de surgir primeiro. O pagamento viria depois.

Disse ele, textualmente: “Para pagar essa dívida é necessário retomar o crescimento. Nós queremos pagar cada real desta dívida, mas para que isso ocorra precisamos retornar o crescimento”. Mais adiante, disse: ?É importante que se mantenha a estabilidade monetária, mas para isso é necessário que a economia volte a apresentar condições de crescimento”. Aqui, dá a impressão de que seu entendimento é de que as duas coisas devem ser feitas concomitantemente. É a fórmula mais desejável, para não abalar o crédito do País e para produzir o bem-estar de seu povo.

Alencar fala da necessidade de um crescimento acelerado, o que dependerá de recursos, mas também de um adequado programa de governo no campo produtivo. “Os empregos são gerados pela produção. Temos de transformar os recursos naturais, não podemos cruzar os braços e basear o nosso desenvolvimento apenas na administração da moeda e das finanças”. Calcula ele que precisamos criar um mínimo de 10 milhões de empregos em quatro anos. E esses empregos não serão criados com paternalismo estatal e, sim, com o desenvolvimento da economia privada, sentencia o vice de Lula que, ao contrário do candidato a presidente, é um liberal e empresário.

Ele combate as altas taxas de juros praticadas no País, dizendo que não se pode pretender que a economia cresça com taxas muito elevadas. “Se a pobreza aumentar, como vamos pagar a dívida?”, pergunta. Alencar é o candidato a vice de Lula e Lula tem reais chances de vencer. Por isso, temos de ver a entrevista de José Alencar como da maior importância. E agarrar-nos às dicas de que não se cogita de moratórias, mas de um esforço hercúleo para aumentar o desenvolvimento econômico sem rompimento dos contratos de financiamento já existentes.

Alencar, e supõe-se que também Lula, acreditam que enquanto se vai rolando a dívida, o Brasil pode explorar melhor suas potencialidades e obter um acelerado desenvolvimento econômico. Acredita que o ovo e a galinha podem nascer juntos.

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